Ismail Haniyeh, líder do Hamas morto em Teerã, em foto de 2021: mundo árabe culpa Israel pela ação, mas israelenses não confirmaram envolvimento.| Foto: EFE/EPA/STRINGER
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Israel conseguiu dois feitos significativos nos últimos dias, em seu objetivo de enfraquecer os dois principais grupos terroristas que costumam promover ataques a locais e cidadãos israelenses: o Hamas, que opera na Faixa de Gaza, e o Hezbollah, que atua no Líbano. Primeiro, um ataque aéreo contra a capital libanesa, Beirute, atingiu Fuad Shukr, um dos principais comandantes do Hezbollah e o responsável, segundo os israelenses, por conseguir a maioria das armas da milícia. A ação foi uma retaliação ao lançamento em massa de projéteis provenientes do Líbano contra as Colinas de Golã (ocupadas por Israel), um dos quais causou a morte de várias crianças e adolescentes; os israelenses atribuíram o ataque ao Hezbollah, mas o grupo negou responsabilidade.

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Em seguida, foi a vez do Hamas. Na quarta-feira, o grupo terrorista confirmou a morte de seu principal líder, Ismail Haniyeh, que vivia no Catar, mas estava no Irã para a posse do novo presidente do país. Israel negou envolvimento na ação, realizada com um míssil de curto alcance, mas isso não impediu todo o mundo árabe de responsabilizar os israelenses pela ação. O que Israel de fato confirmou foi outra baixa importante no Hamas, ocorrida semanas atrás: o número 2 do grupo em Gaza e chefe de sua ala militar, Mohammed Deif. Ele era o principal alvo de um ataque realizado por Israel em 13 de julho; seu braço-direito, Rafaa Salameh, havia tido a morte confirmada no mesmo dia, mas até quinta-feira passada, 1.º de agosto, os israelenses não tinham conseguido descobrir se Deif também estava entre os atingidos.

Um mundo sem Fuad Shukr, Mohhamed Deif e Ismail Haniyeh é ligeiramente mais seguro que um mundo onde eles estejam atuando. A questão é o que vem agora

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De forma um tanto surpreendente, Haniyeh tem sido descrito em parte da imprensa como um “moderado”, pelo simples fato de ele ter sido um dos defensores de um cessar-fogo entre o Hamas e Israel em Gaza. Mas é impossível dar esse tipo de qualificação a alguém que liderava um grupo que cuja razão de existir é a destruição do Estado de Israel e o extermínio dos judeus – e que, portanto, estava totalmente de acordo com esses objetivos. Que haja chefões do Hamas ainda mais radicalizados (como Yahya Sinwar, o número 1 do grupo em Gaza e que Israel ainda não conseguiu eliminar) de forma alguma faria de Haniyeh um “moderado”, até porque ele tem em seu currículo a liderança do Hamas em Gaza em um período no qual o grupo realizou vários ataques a Israel, ainda que sem a magnitude do 7 de outubro de 2023. Não há dúvida, portanto, de que um mundo sem Shukr, Deif e Haniyeh é ligeiramente mais seguro que um mundo onde eles estejam atuando. A questão é o que vem agora.

O Hezbollah, os houthis do Iêmen e o aiatolá Ali Khamenei, líder máximo do Irã, principal financiador tanto do Hezbollah quanto do Hamas, prometeram vingança, mas até o momento não chegou a haver nenhum ataque massivo. Em abril, o Irã respondeu ao bombardeio de seu consulado em Damasco, na Síria, com o lançamento de centenas de drones e foguetes contra território israelense – praticamente todos eles foram interceptados –, no primeiro ataque direto do Irã contra Israel; naquela ocasião, no entanto, o conflito não escalou. Além disso, o fato de os israelenses terem conseguido sucesso na caça a líderes que até então vinham escapando de outras tentativas de assassinato pode agir como fator de dissuasão. Mais certeiras são as previsões de que a ofensiva israelense em Gaza não deve arrefecer, apesar das pressões internacionais por um cessar-fogo que alivie a situação de centenas de milhares de civis palestinos, que acabam sofrendo as consequências da caça aos terroristas.

Igualmente certo é que a diplomacia brasileira seguirá fazendo um papel no mínimo ambíguo. O Itamaraty emitiu notas condenando o assassinato de Haniyeh (não faltaram comparações com textos sobre o “falecimento” de brasileiros vítimas do Hamas em 7 de outubro) e o ataque aéreo a Beirute sem mencionar os líderes do Hamas e do Hezbollah pelo que efetivamente são, terroristas – justiça seja feita, também houve uma nota sobre o ataque ao campo de futebol que matou crianças e adolescentes israelenses. A ambiguidade não é tão acintosa quanto as repetidas falas do presidente Lula sobre o conflito no Oriente Médio, mas ainda assim deixam o Brasil mais perto do “Eixo da Resistência” patrocinado pelo Irã que das nações que desejam um mundo mais pacífico e seguro.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]