Yahya Sinwar acena a militantes e simpatizantes do Hamas, em foto de arquivo feita em dezembro de 2018.| Foto: Mohammed Saber/EFE/EPA
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Um dos principais objetivos de Israel em sua resposta ao massacre terrorista do 7 de outubro de 2023 foi atingido quase que por completo acaso. Na quarta-feira, soldados das Forças de Defesa de Israel patrulhavam uma área em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, quando trocaram tiros com terroristas do Hamas, matando três deles. Foi preciso examinar o corpo para os israelenses descobrirem que tinham eliminado seu “procurado número 1”: Yahya Sinwar, o “açougueiro de Khan Younis”, o idealizador do 7 de outubro e chefe do escritório político do grupo após a morte de Ismail Haniyeh, em julho. O fim um tanto inusitado do líder do Hamas – a patrulha israelense não procurava por Sinwar; nem sequer havia relatos de reféns israelenses na área – certamente deixa o mundo um pouco menos inseguro, e pode até ser um ponto de virada na região, mas isso dependerá de uma série de fatores.

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Embora a morte de Sinwar tenha se devido a um golpe de sorte, os israelenses já vinham trabalhando em uma série de ataques cirúrgicos para decapitar o Hamas e o Hezbollah, o grupo terrorista que age a partir do Líbano. Israel, que jamais assumiu oficialmente a responsabilidade pela ação que matou Haniyeh no Irã, também eliminou Mohammed Deif, o número 2 do grupo em Gaza; Saeed Atallah, comandante das Brigadas Al-Qassam, a ala militar do Hamas; e Mahmoud al-Mabhouh, chefe da unidade de drones do grupo terrorista. Entre os líderes do Hezbollah mortos por Israel estão Fuad Shukr, que seria responsável por conseguir as armas usadas pelo grupo; Ghareeb Alshujaa, comandante de uma unidade de mísseis antitanque; Suhail Hussein, chefe do quartel-general logístico do grupo; e, principalmente, Hassan Nasrallah, o líder máximo do Hezbollah, morto no fim de setembro. Seu primo e provável sucessor, Hashem Safieddine, também teria sido morto, mas Israel não foi capaz de confirmar a morte – Safieddine segue desaparecido até o momento.

Pode haver uma pequena oportunidade para um cessar-fogo e uma diminuição das hostilidades se o Hamas for assumido por lideranças menos fanáticas e mais pragmáticas. Mas Israel também tem de estar disposto a negociar

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Que ambos os grupos têm sentido o golpe é comprovado pelo fato de o Irã, o grande patrocinador do Hamas e do Hezbollah, ter resolvido entrar diretamente no conflito por meio do recente lançamento de cerca de 200 mísseis contra território israelense. Neste exato momento, as unidades do Hamas e do Hezbollah podem estar relativamente desorientadas sem seus comandantes, mas todos os líderes mortos serão substituídos mais cedo ou mais tarde – no entanto, não necessariamente o serão por terroristas com a mesma expertise ou capacidade de comando daqueles que foram mortos. Além disso, os eventuais escolhidos já sabem que se tornam alvos preferenciais de Israel, e que os atuais esconderijos não têm sido suficientes para chefões que, embora exaltem no discurso o “martírio” pela causa palestina, preferem deixá-lo para os soldados rasos do terrorismo e para a população civil que os grupos usam como escudo humano.

Pode haver uma pequena oportunidade para um cessar-fogo e uma diminuição das hostilidades se o Hamas for assumido por lideranças menos fanáticas e mais pragmáticas (ou, ao menos, que tenham um maior senso de autopreservação) que aceitem negociar – os terroristas ainda têm em seu poder um trunfo, na forma de dezenas de reféns israelenses levados no 7 de outubro. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, apontou para esta possibilidade ao prometer clemência aos membros do Hamas que se renderem e entregarem os reféns.

No entanto, Israel também precisa estar disposto a conversar e, ao que parece, Netanyahu pode não se satisfazer com uma devolução de reféns, pois acena com um cenário ainda mais radical: o fim do controle do Hamas sobre a Faixa de Gaza, tomada da Autoridade Palestina pelos terroristas desde 2007. Esta meta, que depende menos de Israel e mais dos próprios palestinos que vivem na região, parece uma condição para o fim definitivo da guerra, a julgar pelas palavras do premiê na Assembleia-Geral da ONU, semanas atrás: “Se o Hamas permanecer no poder, ele se reagrupará, se rearmará e atacará Israel de novo e de novo e de novo, como prometeu fazer. Então, o Hamas tem de acabar”, afirmou Netanyahu.

A reação imediata da liderança restante do Hamas foi a promessa de continuação das hostilidades. “A morte desses líderes tornou o Hamas mais forte e mais popular”, afirmou mensagem assinada por Basem Naim, chefe de relações políticas e internacionais do grupo terrorista, de forma até previsível – ninguém esperaria que o Hamas admitisse sua fraqueza neste momento. Tanto o Hamas quanto o Hezbollah (que também prometeu seguir com seus ataques) ainda têm membros e arsenal suficientes para manter as FDI muito ocupadas e continuar aterrorizando a população israelense. Se as palavras de agora são apenas peças de propaganda para manter a militância mobilizada, ou se são a manifestação de um fanatismo terrorista irredutível, os próximos dias dirão.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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