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O uso de caixas eletrônicos no Uruguai para sacar dólares mostra a que ponto chegou o desequilíbrio econômico sob Cristina Kirchner

Cansados dos absurdos controles cambiais na Argentina, onde o governo controla quantos dólares cada cidadão pode comprar no mercado oficial – isso quando permite a operação, já que é preciso informar o Estado inclusive sobre os motivos pelos quais se pretende comprar a moeda americana –, argentinos descobriram o paraíso nos caixas eletrônicos uruguaios. Segundo reportagem da BBC Brasil, mesmo com os custos de viagem, compensa para os argentinos ir ao país vizinho e sacar dólares com seus cartões de débito e crédito, seja para criar reservas em dólar, ou para trocar a moeda no câmbio paralelo, muito mais rentável que a cotação oficial, ao retornar à Argentina.

A situação mostra a que ponto chegou o desequilíbrio econômico argentino. Desde 2011 as restrições à compra de dólares são cada vez maiores, tanto para pessoas físicas – que precisam fornecer todo tipo de informação, como motivos de viagens ao exterior, se quiserem adquirir a moeda americana – quanto para empresas, que encontram dificuldades para importações. O crescente protecionismo e a obsessão por "não importar nem um parafuso", nas palavras da presidente Cristina Kirchner, levaram a regras surreais como a exigência de envio de um e-mail ao secretário de Comércio Exterior sempre que algum empresário quiser importar algo, ou a regra do "um por um", que obriga empresas a exportar o mesmo valor que importam. Para cumprir a cota, montadoras que não têm fábrica na Argentina chegaram a exportar cereais e vinho para poder trazer carros.

Tal esforço para colocar a balança comercial sob controle – ainda que ilusório, pois o equilíbrio se baseia em um comportamento de mercado muito distante do normal – e conter a fuga de dólares, que efetivamente sofreu uma forte queda de 2011 para 2012, é feito por meio da interferência cada vez maior do Estado sobre as liberdades individuais e a livre iniciativa dos empresários. O controle e a manipulação também se estendem à inflação, cujo índice oficial para 2012 ficou em 10,8%, embora economistas independentes falem em até 25% (e são perseguidos pelo governo ao divulgar suas estatísticas). A situação chegou ao ponto de o Fundo Monetário Internacional ter censurado a Argentina em fevereiro, levando o país a esboçar um novo método de medição dos aumentos de preços. Em relação ao câmbio, como a diferença entre a cotação oficial e a do mercado negro é de até 80%, empresários têm dificuldades em programar seus gastos e investimentos sem saber o real valor da moeda estrangeira.

Lamentavelmente para a Argentina, a economia é apenas uma das áreas em que o país está em um buraco sem fundo. No aspecto institucional, os argentinos veem os esforços de seu governo para colocar de joelhos a imprensa independente, e para obter mais controle sobre o Poder Judiciário, com uma reforma que tramita no Congresso e compromete a independência dos tribunais. Muitos cidadãos, no entanto, vêm tomando as ruas em protestos marcados pelas mídias sociais para manifestar seu descontentamento com os rumos que Cristina Kirchner vem impondo à Argentina. Eles não querem uma ruptura institucional; o seu desejo é que o atual governo mude sua orientação e volte a se pautar pelo respeito à democracia, sem o qual será impossível colocar em ordem os demais aspectos da vida do país, como o econômico.

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