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editorial

Joaquim Barbosa e o debate eleitoral

 | Nelson Jr./SCO/STF
(Foto: Nelson Jr./SCO/STF)

Em meados de abril, o nome de Joaquim Barbosa (PSB), ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), despontou como um dos favoritos entre os pré-candidatos à Presidência da República nas eleições deste ano. As pesquisas de intenção de voto do DataFolha e do DataPoder 360 mostravam que Barbosa angariava votos da esquerda e da direita e tinha chances reais de vitória mesmo no segundo turno, o que acendeu as esperanças de alguns de que o ex-ministro pudesse organizar o centro do espectro político e superar a polarização ideológica. Nesta semana, porém, Barbosa desistiu de concorrer por “decisão estritamente pessoais”, e juntou-se ao apresentador Luciano Huck como mais um balão de ensaio que não decolou.

A bem da verdade, Barbosa já era aventado como candidato desde que o meio-campo da política brasileira começou a se embolar, porque encarnava bem o espírito da luta contra a corrupção, por sua atuação marcante como relator da Ação Penal 407, o Mensalão, no STF. Por mérito, era um dos poucos negros que chegaram ao tribunal ao mesmo tempo em que defendia políticas de cotas, o que lhe dava certo apelo social. No entanto, suas posições políticas eram largamente desconhecidas, um traço que compartilhava com Luciano Huck, e seu temperamento irascível levantava dúvidas de que pudesse ter um desempenho aceitável como presidente.

O Brasil está carente de uma nova forma de fazer política

O entusiasmo que essas figuras “novas” despertam traz boas lições sobre o momento político que vive o Brasil e as reais necessidades para enfrentá-lo. Com razão, a sociedade está cansada de escândalos de corrupção e de ver o Congresso transformado em balcão de negócios, tendendo por isso a rejeitar no atacado toda a classe política. Também é verdade que grande parte do eleitorado rejeita os extremos ideológicos e está órfã, por enquanto, de uma candidatura que saiba dialogar com seus anseios. Mas, com a desistência de Barbosa, é passada a hora de reconhecermos que a resposta a esse estado de coisas passa não por um salvador da pátria, mas por um candidato que apresente um projeto abrangente, consistente e capaz de engajar uma ampla fatia do eleitorado brasileiro através de uma comunicação arrojada e eficaz.

Ausente uma reforma política que realmente destravasse os gargalos da representação - por meio, por exemplo, do voto distrital misto - somente um projeto de nação claro, bem comunicado, que enfrente os reais problemas que afligem a população e destrave o crescimento econômico poderá garantir capital político a um candidato de modo a torná-lo capaz de negociar com o Congresso fora da base da troca de favores. A capacidade de diálogo também será imprescindível para garantir apoio entre as dezenas de partidos com representação no parlamento. Mais do que de novos nomes, o Brasil está carente de uma nova forma de fazer política, que dê prioridade ao bem comum, se comunique de uma forma moderna e inspiradora, sem açular afetos negativos, e que venha, desde logo, anunciada pelo próprio estilo e pela equipe dos presidenciáveis. Isso é o mais urgente no debate eleitoral brasileiro.

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