Um acusado de crimes pelos quais pode pegar meio século de prisão se dispõe a falar tudo o que sabe e, sobretudo, provar o que diz, em troca de redução da pena ou mesmo do perdão judicial. Caso minta ou não consiga fazer prova das informações que presta, enterra as possibilidades de obter o benefício. É assim que funciona a delação premiada, instituto implantado na legislação brasileira após o êxito histórico que obteve quando usado pela primeira vez, nos anos 70, na Itália, para desestruturar a até então poderosa e imbatível máfia. Dito isto, é de se imaginar que as declarações que o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa teria feito até agora perante as autoridades policiais e judiciárias sejam merecedoras de crédito. O que faltam são as confirmações (ou desmentidos) oficiais, bem como as provas dos ilícitos.
No entanto, por mais que a prudência aconselhe que vejamos os vazamentos de informações com a cautela devida, é inegável que, quando o assunto é a Petrobras, quando mais se perfura, mais lama jorra, como se percebeu nos casos de Pasadena e Abreu e Lima. É essa enxurrada inesgotável de notícias que faz crer na verossimilhança das confissões de Paulo Roberto Costa, tornadas públicas por meio de reportagens publicadas no último fim de semana. Nelas, o ex-diretor da estatal confirma a existência de grosso esquema de negociatas em contratos (verdadeiros ou fictícios) com empreiteiras e prestadores de serviços, que alimentavam um propinoduto destinado a abastecer partidos e altos figurantes da cena política e da administração pública do país, envolvendo a alta cúpula dos poderes Executivo e Legislativo. As listas divulgadas incluem um ministro e um ex-ministro (Edison Lobão, de Minas e Energia; e Mario Negromonte, ex-titular da pasta de Cidades), três governadores e ex-governadores (o carioca Sérgio Cabral, a maranhense Roseana Sarney e o falecido pernambucano Eduardo Campos), e os presidentes da Câmara e do Senado, Henrique Alves e Renan Calheiros. O centro operador deste conluio criminoso era ocupado pelo doleiro Alberto Youssef, vizinho de cela do ex-diretor numa dependência da Polícia Federal.
Parece que já vimos esse filme antes, quando do episódio do mensalão. O método era o mesmo: contratos suspeitos triangulavam operações financeiras, que beneficiavam parlamentares para comprar-lhes o bom comportamento requerido pelo governo do então presidente Lula em suas relações com o Congresso. Lula dizia nada saber a respeito do que acontecia sob seu nariz, assim como agiu, depois, para tentar livrar os mensaleiros do julgamento e da condenação.
E Dilma? Se o caso da Petrobras é realmente um "mensalão 2", a presidente segue o roteiro do original: repete o mantra do "eu não sabia", mesmo tendo ocupado, antes da Presidência, os cargos de ministra de Minas e Energia e da Casa Civil, sem falar na presidência do Conselho de Administração da Petrobras. Essa postura contradiz a fama que quis cultivar de "gerentona" alguém capaz de administrar com eficiência os setores que lhe foram confiados.
Agora, o Planalto quer tomar conhecimento "oficial" das confissões de Paulo Roberto Costa. O que a presidente fará com os dados? Em sua entrevista ao Jornal Nacional, em agosto, Dilma deixou implícito que, quando a corrupção envolve seu partido, ela prefere não comentar. Se continuar a seguir o script criado por Lula, é de se perguntar quanto tempo levará até que a presidente passe do "eu não sabia" para o "fui traída".
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