Diante de uma crise de vendas e falta de mercado para seus produtos, o presidente de uma empresa pode (e deve) admitir a gravidade da situação, tomar a decisão de reduzir a produção e cortar custos, como meio de garantir a sobrevivência da companhia. Mas, diante da crise, um ministro da Fazenda não pode, à moda do executivo privado, dar o mesmo tipo de conselho a todas as empresas nacionais, sob pena de lançar o país em uma onda de demissões e desemprego em massa. É a diferença entre o que é conveniente no plano microeconômico e o recomendável no plano macroeconômico.

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Apesar da restrição imposta ao dirigente máximo da economia nacional, um ministro tem limites para seguir negando aquilo que está óbvio para todo mundo e, principalmente, está comprovado pelos indicadores econômicos. O ministro Joaquim Levy participou de encontro realizado em Washington, nos Estados Unidos, e deu entrevista admitindo o óbvio: o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro está em retração. Entretanto, o titular da Fazenda esquivou-se de falar claramente em recessão, inclusive porque o encontro teve por objetivo reduzir a pressão dos investidores (200 deles compareceram ao evento), acalmar o mercado e melhorar a percepção sobre a economia brasileira.

Joaquim Levy tem sido franco e transparente em suas declarações e nas informações passadas ao mercado. Ele não tem escondido que o primeiro mandato da presidente Dilma criou uma série de problemas e deixou medidas erradas que precisam ser desfeitas e consertadas. A principal questão é a desorganização das contas públicas e o desequilíbrio financeiro no qual o governo foi lançado e cuja consequência, caso continuasse a mesma prática, seria a explosão da dívida pública, aumento dos juros, aumento da inflação, recessão e desemprego.

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Economistas ligados ao PT assinaram manifesto contrário às medidas de austeridade, mas não disseram qual solução seria possível num quadro de retração da produção e da arrecadação, caso o governo seguisse gastando como vinha fazendo

Levy tem deixado claro que o país precisará de um tempo de ajuste fiscal e aperto financeiro governamental, com medidas duras e restritivas, como forma de reorganizar as finanças públicas e preparar o ambiente para a retomada do crescimento do PIB. Uma das pedras de toque do plano do ministro da Fazenda é perseguir a meta de superávit primário (receitas menos despesas do governo, antes de deduzir os juros da dívida) de 1,2% do PIB em 2015. Dilma tem demonstrado disposição para apoiar o ministro, em uma admissão implícita (mas nunca verbalizada) de que seu primeiro mandato foi um desastre na gestão financeira das contas fiscais, incluindo a perda da credibilidade derivada das constantes manipulações na contabilidade pública.

Dilma deu poderes a seu ministro para anunciar as medidas de austeridade, inclusive cortes de benefícios sociais, e parece apoiar sua execução, mesmo contra a gritaria de parcela de seu partido, o PT. O governo gastou tanto (o superávit primário de 2014 foi zero) que a velha meta de um superávit igual a 3,5% do PIB tornou-se impossível e fora de cogitação; na verdade, nem mesmo a meta de apenas 1,2% será alcançada, em parte porque o PIB de 2015 não deve crescer. O ministro não fala em recessão, mas também não esconde que a estagnação prosseguirá neste ano.

O ministro Levy é reconhecido como um profissional sério e competente – embora muitos, inclusive no próprio PT, não gostem de seu perfil de economista liberal –, cuja missão de gerir o aperto fiscal e as medidas impopulares depende do apoio da presidente da República, da compreensão popular para os cortes e da aceitação de um período de vacas magras, com possibilidade de alguma recessão.

Economistas ligados ao PT assinaram manifesto contrário às medidas de austeridade, mas não disseram qual solução seria possível num quadro de retração da produção e da arrecadação, caso o governo seguisse gastando como vinha fazendo. A economia não obedece a voluntarismos de um partido que apregoa não aceitar a austeridade fiscal e a recessão, e não há espaço nem para aumentar ainda mais os tributos, nem para continuar elevando a dívida pública. Os gastos sem limites e as medidas de relaxamento fiscal já mostraram fartamente que as consequências são sempre as piores possíveis.

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O ministro da Fazenda tem a difícil tarefa de insistir num plano duro e austero, como pré-condição para reorganizar a situação financeira do governo e preparar o país para retomar o crescimento a partir de 2016. Embora sem admitir publicamente, o ministro sabe que é tênue a linha divisória entre o não crescimento e a recessão (que é a queda do PIB em relação ao período anterior). Se a recessão der sinais nos próximos meses, Levy não escapará de ter de admiti-la e dizer como pretende enfrentar o problema.