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Editorial 1

Lições da crise para as prefeituras

A crise financeira mundial deixou os municípios brasileiros mais frágeis, menos seguros e carentes de assistência em termos de infraestrutura e serviços básicos. O Paraná não foi exceção nesse con­­texto. Isso pelo menos é o que mostra um le­­­­vantamento inédito feito pelo Tribunal de Contas do Paraná (TCE-PR) sobre as finanças de 255 cidades, dos 399 municípios do Paraná (64% do total). Na maioria dessas localidades, as despesas orçamentárias foram reduzidas em R$ 358 milhões (3%), caindo de R$ 11,9 bilhões, em 2008, para R$ 11,5 bilhões, neste ano.

A pesquisa do Tribunal de Contas paranaense indica que um dos maiores corte de gastos (19,2%) ocorreu nas despesas com melhorias e conservação das cidades, como asfaltamento e limpeza pública. Nesses casos, foram R$ 258 milhões a menos entre janeiro e agosto deste ano em relação ao mesmo período de 2008. Os cortes também atingiram o setor de transportes (R$ 79 milhões); administração (R$ 63 milhões); e educação (R$ 55 milhões). Diante desse quadro, a Associação dos Municípios do Paraná (AMP) estima que 35% das prefeituras conseguirão pagar apenas parte do 13.º salário e irão transferir algumas dívidas para 2010.

Esses resultados já eram previsíveis desde o início do ano quando novos administradores assumiram as prefeituras municipais. Em janeiro, diante das dificuldades das micro e pe­­quenas empresas com a queda da demanda, o governo federal havia postergado a cobrança do Simples Nacional para aliviar o caixa dessas em­­presas. Bom para elas, mas ruim para os cofres municipais. Assumindo as administrações de co­­fres vazios, sem falar nas cidades que sofreram com más administrações anteriores, os no­­vos prefeitos paranaenses começaram o mandato com as contas ainda mais prejudicadas. E assim prosseguiu.

Em março, a situação já se mostrava crítica. Em protesto contra a queda no repasse do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), a maioria das 399 prefeituras paranaenses fe­­chou suas portas ou limitou o expediente. En­­tre muitas reivindicações, a Associação dos Mu­­nicípios do Paraná queria compensação pa­­ra as prefeituras diante das perdas com o FPM, a adoção de mecanismos na reforma tributária, que ampliassem as suas receitas, e mais recursos para o Programa Saúde da Família. Mas isso não aconteceu.

O levantamento do Tribunal de Contas foi ao encontro com o real: o Fundo de Participação dos Municípios foi disparado o item que mais caiu (R$ 124 milhões), seguido pelo repasse do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestações de Serviços (ICMS), que teve queda de R$ 41 milhões. Como mostrou reportagem da Gazeta do Povo, parte disso foi em consequência da diminuição do consumo. Mas a causa principal da queda do repasse aos municípios é a desoneração promovida pelo governo federal para manter o ritmo da economia, baseado na manutenção de empregos e da produção de itens de consumo.

Ora, o lamento e a lista infindável de reivindicações dos prefeitos são posturas antigas no Paraná e no Brasil. Se as instâncias públicas su­­periores concordassem com todos os pleitos municipalistas, especialmente as isenções fiscais e as solicitações de verbas a fundo perdi­­do, não haveria dinheiro no mundo para atendê-los.

A grande verdade é que a crise levou às prefeituras um choque de realidade. A época da bo­­nança, que gerou muitas administrações irresponsáveis, estimulando a corrupção, acabou. A melhor lição disso tudo seria aprender com a dificuldade: baixar o custeio, extirpar o empreguismo e diminuir o desperdício. Com certeza, as administrações municipais seriam mais eficientes e superavitárias. Assim não te­­ría­­mos mais prefeitos sem comprometimento com a administração municipal e seria feita justiça com todos aqueles que de fato pagam im­­postos e sustentam essas municipalidades.

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