Uma avaliação da Jornada Mundial da Juventude aponta os desafios de logística que precisam ser enfrentados com urgência para os grandes eventos esportivos de 2014 e 2016

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A Jornada Mundial da Juventude terminou anteontem e, do ponto de vista puramente numérico, deixou um saldo positivo: milhões de peregrinos (estimativas variam de 1,2 milhão a 3,2 milhões de pessoas nos eventos de sábado e domingo) deixaram cerca de R$ 1,8 bilhão na economia carioca. Mas, ao mesmo tempo, ficaram evidentes vários desafios com os quais o Rio de Janeiro e o Brasil precisam urgentemente aprender a lidar, especialmente com dois grandes eventos esportivos num futuro próximo, a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.

Das Copas do Mundo recentes, a que atraiu mais turistas foi a da Alemanha, em 2006, com 2 milhões de visitantes – em um país com posição geográfica privilegiada e num cenário pré-crise econômica, é preciso ressaltar. Segundo o escritório nacional de estatísticas britânico, entre julho e setembro do ano passado 680 mil estrangeiros entraram na Inglaterra com algum propósito específico ligado aos Jogos Olímpicos (assistir às competições, participar ou trabalhar nelas). Por isso, considerando os números, é possível que a JMJ acabe sendo o maior dos grandes eventos ocorridos no Brasil entre 2013 e 2016. Mas, ainda que a demanda por serviços por parte dos visitantes na Copa e na Olimpíada seja menor que a da JMJ, os eventos esportivos costumam atrair maior visibilidade, e acontecimentos ligados à visita do papa Francisco mostraram que ainda há lições de casa que não foram feitas.

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O transporte público, por exemplo, será muito pressionado durante os eventos, e decisões erradas podem custar caro. Durante a JMJ, o que se viu foi uma enorme dificuldade de garantir uma saída sem transtornos após os grandes atos que reuniram a totalidade dos peregrinos. Uma pane no metrô prejudicou a ida dos visitantes a um dos eventos em Copacabana, sem que houvesse um plano B. No domingo, um bloqueio que durou até as 19 horas impedia inclusive táxis de entrar em Copacabana, privando os peregrinos de uma opção para deixar o local da missa de encerramento da Jornada – os táxis disponíveis eram apenas os que já estavam circulando no bairro e que, uma vez tendo deixado Copacabana, teriam dificuldade para voltar à região. Esse é um fator que precisa ser levado em consideração especialmente nos Jogos Olímpicos, quando é comum espectadores terem bilhetes para diversas competições no mesmo dia, em locais diferentes; eles precisam de meios para se mover rapidamente dentro da cidade.

Mas foi a situação do Campus Fidei, no bairro de Guaratiba, que chamou mais atenção como sinônimo de desorganização. O local que deveria ter abrigado os dois atos finais da JMJ, a vigília de sábado e a missa de domingo, se tornou inviável com as chuvas que caíram no Rio durante a semana da Jornada. Não foi aprendida a lição de 2007, quando os campos de beisebol e softbol dos Jogos Pan-Americanos, na Cidade do Rock, viraram um lamaçal, forçando o adiamento e o cancelamento de algumas partidas, inclusive valendo medalhas. No Campus Fidei, milhões de reais foram desperdiçados com a preparação do terreno para as cerimônias papais, tornando o local um ícone do desperdício.

A organização da JMJ também não esteve isenta de erros – basta conferir as reclamações sobre a entrega dos kits dos peregrinos (uma mochila com livros, camiseta e outros acessórios) e, especialmente, do pacote de alimentação para a vigília. Poucos locais de distribuição, informações desencontradas e espera de horas em filas fizeram parte do cotidiano dos católicos que participaram da Jornada.

Enquanto parte dos erros pode ser atribuída a deficiências do poder público, muitos dos problemas enfrentados pelos peregrinos da JMJ têm origem em uma cultura, infelizmente típica do Brasil, de "improvisação confiante": imagina-se poder fazer tudo de última hora acreditando que "no fim tudo dá certo". O Campus Fidei e os milhares de peregrinos que desistiram de seus kits de alimentação mostram que nem sempre dá tudo certo no final. É verdade que o público da JMJ, já ciente, por exemplo, da necessidade de passar uma noite ao relento no encerramento do evento (o que é uma praxe nas Jornadas), tem uma tendência natural a relevar os problemas. Mas isso não deveria servir de desculpa para problemas que poderiam ser evitados. Se a cultura de improvisação continuar, e se o público da Copa e da Olimpíada não encontrar serviços compatíveis com o valor dos ingressos que pagam, o risco de vexame não é desprezível.