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Apelidada de "CPI do fim do mundo", porque a tudo queria investigar ainda que muitos fatos não estivessem contidos nos objetivos estritos que determinaram sua criação, a CPI dos Bingos termina depois de amanhã. Mas, apesar da estridência que marcou seu funcionamento ao longo de nove meses, os resultados alcançados provavelmente serão decepcionantes: poucas das suspeitas levantadas serão confirmadas e poucos dos envolvidos serão indiciados.

Pretendia-se comprovar, com base em um flagrante de achaque, protagonizado por um assessor do então poderoso ministro José Dirceu, de que o Partido dos Trabalhadores financiou parte da campanha presidencial de 2002 com dinheiro espúrio proveniente de casas de bingo. E que a corrupção iniciada por esse método estendeu-se para outros crimes não necessariamente eleitorais e para outras esferas do poder público, tais como lavagem de dinheiro, tráfico de influência, formação de quadrilha e outros.

As evidências de que tudo isso era verdadeiro foram abundantes, porém parcas foram as provas recolhidas. De um lado, porque os sigilos bancários, telefônicos e fiscais dos supostos envolvidos, embora legalmente quebrados, não foram cumpridos – ou o foram de forma incompleta – pelas empresas detentoras dos dados que poderiam definitivamente implicá-los. De outro, porque, em muitas situações, não interessava ao governo e à oposição o aprofundamento de investigações.

Com isso, a CPI deve entregar à Justiça e à opinião pública um relatório final, que, salvo as exceções de praxe – que normalmente atingem apenas figuras menores do esquema –, não levará ao esclarecimento geral e cabal dos delitos e muito menos à punição dos maiores culpados. A essa perspectiva pessimista quanto às conclusões e aos seus efeitos, é que se costuma chamar de pizza.

Há razões, contudo, também para algum otimismo. Embora cansada dos escândalos e profundamente frustrada quanto à capacidade das instituições de pôr cobro à onda de corrupção que enlameia a vida pública brasileira (veja-se o caso da generalizada absolvição dos parlamentares comprovadamente envolvidos no mensalão!), a opinião pública já não tem o direito de manter-se ingênua, pois recebeu lições imensas e aprendeu em profundidade como se faz política no país. Aprendeu também que há imprensa livre e forte no Brasil, não comprometida com os desvios éticos que ajudou a apurar e a torná-los públicos. Espera-se, por tudo isso, que os brasileiros tenham igualmente aprendido o quanto o voto de cada cidadão pode influir para mudar esse quadro.

Este é justamente o lado bom que as CPIs fizeram aflorar, independentemente dos resultados concretos que obtiveram. À ingenuidade crônica deve-se preferir o voto consciente e responsável, a escolha certa de candidatos com história de vida pública não maculada pelo uso de expedientes imorais. As CPIs ofereceram esses parâmetros e, neste sentido, cumpriram bem o seu papel. O resto da tarefa de limpeza caberá agora também aos eleitores.

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