Com a reportagem "Negócios de R$ 1 bilhão", publicada dia 1.° de julho do ano passado, o caderno Caminhos do Campo, da Gazeta do Povo, ganhou no início deste mês o 8.° Prêmio Massey Fergusson de Jornalismo na categoria jornal. Trata-se de uma análise do desempenho das dez cooperativas brasileiras com faturamento superior a R$ 1 bilhão e da revelação do "segredo" das cinco gigantes paranaenses para atingir essa marca. A reportagem joga luzes sobre lições que, não raras vezes, caem no esquecimento ou são trocadas por iniciativas de efeito imediato, sem a consistência que dá longa vida ao empreendimento. Ensinamentos deixados de lado mesmo em períodos agudos de crise da economia mundial, como agora. No cooperativismo, os riscos próprios dos negócios são diluídos pela pulverização de responsabilidades, já que o objetivo final é compartilhar resultados. Na homenagem ao 87º Dia Nacional do Cooperativismo e aos 10 anos de fundação do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop), no Congresso Nacional, a senadora Serys Slhessarenko, 2ª vice-presidente do Senado, bem lembrou que o cooperativismo é uma iniciativa econômica das mais brilhantes do gênero humano, cuja grande virtude, acentuou, é seu caráter conciliador e híbrido ao reunir as contribuições dos dois modelos econômicos do século 20 o socialismo e o capitalismo. Recordou ainda a senadora sua participação em debate realizado no Congresso dos Estados Unidos, em março passado, como chefe de uma missão de parlamentares brasileiros sobre Mudanças Climáticas, do qual saiu a constatação de que o cooperativismo pode ser um terceiro caminho para a humanidade.
A origem do cooperativismo remonta à Inglaterra de 1844 e a um grupo de tecelões. No Brasil, a primeira iniciativa de organização baseada no comunitarismo e voltada a compor uma sociedade cooperativista em bases integrais tem seu registro em 1.600, com a fundação das primeiras reduções jesuíticas. Era a via da solidariedade humana vencendo o individualismo; o trabalho coletivo para a supremacia do bem-estar da coletividade se sobrepondo ao isolamento. Organizações voluntárias, abertas a todos os interessados em utilizar seus serviços e dispostos a aceitar as responsabilidades da sociedade, as cooperativas são controladas por seus associados, que fixam as políticas a serem seguidas e tomam decisões com base no voto, dentro do princípio universal do "um homem, um voto".
Balanços de 2003 mostravam que as cooperativas brasileiras já haviam provado na prática a sua relevância social e a competência produtiva. Mais que um exemplo de eficiência, elas ofereciam um caminho diferente para o desenvolvimento nacional.
Hoje, a atividade movimenta diretamente 2,4 bilhões de pessoas, comandadas por 800 milhões de sócios em todo o mundo e cerca de 8 milhões no Brasil. E, ainda na cerimônia realizada no Senado, o senador Osmar Dias, autor da proposta de homenagem, destacou também o papel do cooperativismo para a superação da crise econômica mundial. Afinal, estão sólidas, têm gestão moderna e enfrentam a crise, como, aliás, as anteriores, com disposição e afinco, posto que sabem, literalmente, onde estão pisando.