O Brasil está fazendo esforços contínuos para se manter em crescimento, com ajustes diários na política econômica e no câmbio. Do controle da inflação ao estímulo à geração de empregos, cada medida tem importância e efeito específicos. No entanto, as preocupações com a alta do dólar ou com o fechamento de postos de trabalho são tão urgentes que as providências de médio e longo ficam de lado. E perdas concretas estão ocorrendo longe dos centros urbanos ou do mundo financeiro porque gargalos logísticos impedem o crescimento do país e negam sua vocação para a produção de alimentos.

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Os problemas no escoamento da produção rural provocam perdas crescentes, na medida em que o setor se expande sem o devido lastro de infraestrutura. Caminhões carregados de grãos colhidos no Oeste do Paraná e no Centro-Oeste do país estão fazendo 500 quilômetros a mais para que a carga seja exportada pelos portos de Rio Grande (RS) e São Francisco (SC), mostrou a Gazeta do Povo. Os mesmos caminhões poderiam descarregar em Santos (SP) ou Paranaguá (PR) se houvesse uma logística coerente, que garantisse fluidez no percurso mais curto e, consequentemente, competitividade na exportação de alimentos.

Os problemas não estão apenas nos portos cercados de navios à espera de carga. Paranaguá e Santos dependem, sim, de fortes investimentos estruturais para deixarem de funcionar como funis, mas isso não seria suficiente. Falta reduzir os custos de transporte com novas ferrovias e rodovias, ampliar a capacidade de armazenagem com investimentos públicos e privados.

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O que faz uma carga percorrer uma distância bem maior que a necessária? Os exportadores verificam que, optando por portos mais distantes, podem obter mais lucro, diante da sobrecarga das rotas tradicionais. O agendamento de serviços portuários é menos disputado, os navios não precisam ficar três meses ao largo, o tráfego rodoviário tende a ser menos pesado. Gasta-se mais em diesel, mas economiza-se valor maior em itens relacionados ao tempo.

E não é apenas a iniciativa privada que está perdendo dinheiro com o atraso na ampliação da rede de rodovias, ferrovias e portos. O governo previu gasto de R$ 700 milhões no pagamento de prêmios para quem garantir preço mínimo ao milho no Centro-Oeste. Na prática, está pagando a diferença da cotação do mercado, achatada pelos gargalos estruturais, para o custo mínimo dos agricultores. É uma forma de não inibir a produção quando a demanda, por si só, não eleva as cotações a ponto de sustentar a logística absurda.

Na última semana, porém, técnicos que monitoram custos e cotações revelaram que, para não registrar prejuízos, estados como o Mato Grosso deveriam reduzir o cultivo de milho. Justamente o milho, responsável pela expansão contínua da safra nacional de grãos, que chega a 185 milhões de toneladas em 2012/2013 e tem potencial para atingir 200 milhões de toneladas em 2013/2014. Áreas preparadas e com potencial comprovado seriam simplesmente desativadas durante parte do ano. Por enquanto, não há confirmação de que isso vá ocorrer na temporada 2013/2014, que começa neste mês. Mas a hipótese não está descartada, uma vez que mesmo os preços mínimos oficiais – tomados como referência no pagamento de prêmios – não cobrem mais os custos.

O Brasil não pode se dar ao luxo de deixar de produzir. Precisa de estrutura de armazenagem, transporte e embarque que garanta uma arrecadação no mínimo equivalente aos custos de produção no campo, inclusive em momentos de preços em baixa. Afinal, não se pode contar sempre com cotações acima da média.

Seria cômodo para estados que possuem consumo interno do cereal elevado como o Paraná – pela concentração de indústrias de carne – apontarem a expansão contínua das lavouras no Centro-Oeste como causa dos preços baixos do grão. Mas a ampliação da oferta interna não é um problema em si. A questão é a competitividade limitada diante da concorrência internacional. Basta os preços externos caírem para que isso fique evidente.

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