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Editorial

Lula, a Lava Jato e o preço dos combustíveis

Defesa do ex-presidente Lula obteve vitória em julgamento na Segunda Turma do STF.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. (Foto: Ricardo Stuckert/Fotos Públicas)

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A partir do momento em que o preço dos combustíveis começou a aumentar mais rapidamente, puxando consigo uma série de outros produtos e serviços e jogando a inflação para cima, vários atores públicos ofereceram explicações simplistas e equivocadas para o fenômeno, mas a competição pela justificativa mais esdrúxula parece ter acabado de encontrar um vencedor. O ex-presidente, ex-presidiário e ex-condenado Lula culpou a Operação Lava Jato pela alta dos combustíveis: “O objetivo da Lava Jato a gente já sabe qual era. Era destruir a indústria naval nesse país. Destruir a indústria de óleo e gás. Olha o preço da gasolina agora... Não tem explicação essa política de preços nivelada pelo mercado internacional”, escreveu o petista em seus perfis nas mídias sociais.

Culpar a Lava Jato pelo aumento do preço da gasolina é apenas a versão mais recente de um mote usado pelo petismo desde a época em que ainda estava no poder. Em 2015, Dilma Rousseff afirmou que a operação de combate à corrupção havia reduzido em 1% o PIB nacional e, no mês seguinte, o ministro Aloizio Mercadante elevou a conta para 3,5% do PIB. O argumento continua tendo seus fãs, como o ministro do STF Dias Toffoli, que repetiu a ladainha no fim de 2019. O argumento é o de que a operação quebrou empreiteiras que participaram do esquema de corrupção e freou investimentos da Petrobras.

Lula se acha no direito de reescrever o passado culpando a Lava Jato por todas as mazelas que for capaz de elencar. O ex-presidente, no entanto, jamais será capaz de apagar a verdade: quem destruiu a Petrobras foi o petismo

A discussão sobre até que ponto as empresas devem ser responsabilizadas pela corrupção de seus funcionários, sua diretoria e até de seus proprietários é legítima, mas fato é que tudo o que ocorreu às empreiteiras flagradas no esquema de propina petista estava previsto na Lei de Licitações e na Lei Anticorrupção (esta última sancionada pela própria Dilma). Empreiteira nenhuma teria tido problemas caso seus diretores e donos tivessem feito a coisa certa, em vez de sujar as mãos no petrolão. Não há lógica nenhuma em atribuir à Lava Jato os prejuízos decorrentes da opção de executivos de grandes empresas pela corrupção. Quem argumenta desta forma, no fundo, preferiria que nada tivesse sido descoberto e que partidos políticos e empreiteiras pudessem seguir pilhando as estatais sem serem incomodados.

E, ao contrário do que afirma Lula, há explicações muito simples para a política de preços adotada pela Petrobras, e entre as principais está a necessidade de recuperar a estatal do altíssimo grau de depredação realizado pelo lulopetismo. A Petrobras não chegou a se tornar a petroleira mais endividada do mundo por um lance do acaso, mas porque foi vítima de decisões tomadas com plena consciência pelo petismo enquanto esteve no poder. Não apenas a decisão de usar a Petrobras para o maior e mais antidemocrático esquema de corrupção da história recente do país, mas também as decisões de negócio equivocadas envolvendo refinarias como a de Pasadena e a de Abreu e Lima, e a decisão de represar artificialmente o preço dos combustíveis em 2014 para não prejudicar a reeleição de Dilma, jogando todo o prejuízo nas costas da estatal.

A Lava Jato, portanto, não “destruiu” nada. Quem destruiu foi o petismo, quando montou o petrolão e, na prática, “privatizou” a Petrobras, fazendo-a trabalhar pela manutenção do projeto de poder ilimitado do PT, não importando os prejuízos que viesse a ter. Foi apenas com a saída de Dilma Rousseff que a Petrobras passou a ter gestores comprometidos com a saúde e a recuperação da empresa; e, já que o petismo não se preocupou em modernizar o parque de refinarias brasileiro para transformar a autossuficiência nominal em autossuficiência real, o Brasil segue dependente do produto importado, tornando inviável uma política de preços que desconsidere totalmente a cotação do dólar e o preço do petróleo definido pelo cartel internacional de produtores.

Animado com a teratológica anulação de seus processos na Justiça, a absurda suspeição de Sergio Moro e a perseguição aos membros da força-tarefa da Lava Jato em instâncias como o Conselho Nacional do Ministério Público, Lula se acha no direito de reescrever o passado culpando a Lava Jato por todas as mazelas que for capaz de elencar. O ex-presidente, no entanto, jamais será capaz de apagar a verdade. A Justiça pode ter decidido que os depoimentos e as evidências colhidas pela Lava Jato não servem mais em uma corte, mas não tem o condão de transformar o verdadeiro em falso: a maior operação de combate à corrupção da história do país mostrou muito bem quem são e o que fizeram os vilões que quase destruíram a Petrobras; disso não há mais dúvida alguma.

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