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A entrevista coletiva concedida pelo presidente Lula nesta semana foi mais importante pelo fato da exposição em si do que por afirmações relevantes que o chefe do Executivo nacional tenha feito. Trata-se de um procedimento regular nas democracias consolidadas em que o governante presta contas à sociedade, de forma direta, mas filtrada pela mediação crítica de comunicadores experientes. No caso brasileiro, foi a segunda participação do presidente em uma entrevista coletiva à imprensa, uma prática que deveria ser mais comum na vida política brasileira.

O tom cordial e afirmativo mantido por Lula durante o evento foi positivo, evidenciando seu amplo domínio no manejo desse instrumento de comunicação, temperado por um ambiente político-econômico menos hostil do que em períodos anteriores. O governo parece ter retomado a confiança após as fases de incerteza do início do primeiro mandato – quando a urgência era recuperar a solvência internacional do Brasil – ou dos episódios críticos do "mensalão", do dossiê dos dólares destinados a um ato de corrupção eleitoral e de outros similares.

Após a indiscutida vitória do ano passado nas urnas e a montagem de um presidencialismo de coalizão que reúne a mais ampla bancada parlamentar da crônica republicana, Lula comparece ao cenário com um capital político que não se abala com circunstâncias à margem, tais como os tropeços na política externa ideologizada, o desalinhamento cambial que prolonga um crescimento econômico modesto e a persistência de taxas elevadas de informalidade e desemprego.

No campo imediatamente político, nesta segunda entrevista coletiva desde que assumiu o cargo, o presidente descartou a busca de um terceiro mandato, desautorizando qualquer negociação empreendida por membros de seu grupo partidário ao enfatizar que não brinca com a democracia. Mas se é contrário a mais uma reeleição, Lula não deixa de querer influir na própria sucessão, mediante a busca de um candidato de consenso na base aliada que, admitiu, poderia não ser do PT que ajudou a fundar.

Outro ponto alto da entrevista foi aquele em que Lula reconheceu as limitações do cargo num sistema constitucional: "O presidente não governa com as forças com que gostaria de governar, mas com as forças que compõem as organizações políticas e os partidos". Tal admissão é essencial: a democracia é por excelência um modelo pluralista em que o poder é condicionado por múltiplos fatores, cabendo destacar entre eles a crescente influência da opinião pública – sobretudo quando expressa por grupos organizados da sociedade civil.

Em outro trecho o presidente assegurou a continuidade do atual regime de câmbio flutuante, pronunciando-se contra artificialismos para segurar a queda do dólar. Não obstante, nossa realidade não é de flutuação pura porque o câmbio sofre a distorção de uma política de juros altos que atrai ondas de capital de curto prazo. Incisiva ainda foi a opção por uma disciplina das greves no funcionalismo, numa evidência de que o antigo sindicalista superou sua vinculação de classe por um compromisso pleno com o interesse público.

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