O brasileiro tem sido exemplar em sua resposta à tragédia das enchentes que engoliram todo o Rio Grande do Sul. Seja na atuação dos voluntários que colaboram com os resgates, seja na ação de empresas e entidades da sociedade civil organizada, seja no volume massivo de doações de alimentos, roupas e outros itens de primeira necessidade provenientes de todo o país, a solidariedade demonstrada nesses dias é motivo de orgulho. O mesmo, infelizmente, não se pode dizer da atuação daqueles que nos governam.
Não falamos, obviamente, do aparato estatal como um todo. Não há como ignorar a importância do efetivo das Forças Armadas, dos órgãos de segurança, dos bombeiros, da Defesa Civil, tanto do Rio Grande do Sul quanto de estados que enviaram equipes; nem de profissionais da linha de frente em serviços como os de saúde atuando nas centenas de municípios gaúchos atingidos. Já a cúpula do poder federal, apesar de algumas ações que correspondem ao mínimo esperado em uma situação de tragédia, parece muito mais interessada em capitalizar em cima da agonia dos gaúchos e preservar a própria imagem.
O drama dos gaúchos que perderam tudo, para Lula e seu entorno, não passa de mais uma oportunidade de autopromoção e de movimentações eleitoreiras
A máquina de propaganda governamental, por exemplo, não hesitou em transformar em espetáculo o resgate de um cavalo, elevado a “símbolo da resistência” em meio a inúmeros dramas humanos e histórias notáveis de resiliência entre os gaúchos. A primeira-dama posou sorridente dentro de um avião da Força Aérea Brasileira, com cestas básicas nos assentos, devidamente “protegidas” por cintos de segurança afivelados. Enquanto isso, o Ministério da Verdade petista se empenhava em usar até mesmo o poder de polícia para calar quem divulgava informações posteriormente confirmadas como verdadeiras – caso das multas aplicadas a caminhões que levavam donativos, apesar de a ANTT falar em “casos pontuais” – e até mesmo quem fazia críticas legítimas à atuação do poder público, comparando-o à resposta oferecida pela iniciativa privada. Na última quarta-feira, entretanto, Lula e seu governo conseguiram descer ainda mais na escala da indecência.
O presidente transformou em comício sua visita à cidade de São Leopoldo, para anunciar medidas de ajuda aos gaúchos. Usou a cartada racial a que a esquerda recorre com frequência para dividir o país, atacou seu antecessor, disse querer disputar mais “umas dez eleições” e disparou piadinhas, entre aplausos e gritos de guerra, em um clima que em absolutamente nada condiz com a situação atual pela qual passa a maioria dos habitantes do Rio Grande do Sul, e que exigiria sobriedade, não o circo montado não por acaso na cidade que é um dos principais redutos petistas do Rio Grande do Sul. O espetáculo, ainda por cima, serviu para formalizar uma outra forma de exploração política da tragédia gaúcha, mais sorrateira e mais sórdida.
Em São Leopoldo, Lula empossou seu censor-chefe, o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, como secretário extraordinário de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, um novo órgão que ninguém sabe exatamente o que fará, mas que dará muita visibilidade a Pimenta. O deputado federal licenciado, eleito com os votos de 223 mil gaúchos em 2022, não tem experiência no gerenciamento de catástrofes; seu campo é a propaganda, o que vem bastante a calhar diante da necessidade de promover a imagem do governo federal como o grande protagonista da ajuda ao Rio Grande do Sul. Ainda mais relevante é o fato de Pimenta ser o pré-candidato petista ao governo do estado em 2026, e ganhar um palanque antecipado com o novo cargo, cuja criação não foi nem mesmo avisada antecipadamente por Lula ao governador gaúcho, Eduardo Leite.
O drama dos gaúchos que perderam tudo, para Lula e seu entorno, não passa de mais uma oportunidade de autopromoção e de movimentações eleitoreiras. O governo federal tem papel fundamental na reconstrução do Rio Grande do Sul, mas não com sensacionalismo, nem com espetáculo, muito menos com “intervenções brancas” e politicagem rasteira. No entanto, pedir sobriedade e respeito às competências de cada ente federativo é demais para quem está convicto de que tudo no país deve servir a seus interesses particulares.
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