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Editorial

Lula e sua guerra contra o agronegócio

Presença de Alckmin na feira do MST após declarações de Lula piorou o clima com o agronegócio; na foto, o vice-presidente aparece com João Pedro Stédile (à direita). (Foto: Reprodução/Twitter Geraldo Alckmin)

Entre o Brasil que produz e o Brasil que destrói, Lula fez sua escolha. Uma série de eventos recentes demonstra de forma inequívoca que, entre o setor agropecuário, um dos principais, se não o principal motor da economia nacional, e o Movimento dos Sem-Terra, uma das linhas auxiliares do petismo, dedicada única e exclusivamente a invadir terras e a manipular ideologicamente agricultores que buscam um pedaço de chão, o governo se alinha a estes enquanto hostiliza aqueles. E podemos, com toda a tranquilidade, falar de “governo”, pois não se trata apenas da boquirrotice do presidente da República; o primeiro escalão do governo, em peso, vem agindo na mesma linha, a ponto de um dos líderes da Frente Parlamentar do Agronegócio (FPA) ter dito que o governo “arrancou a ponte com o agro”.

Na última sexta-feira, durante evento na Bahia, Lula repetiu um insulto grave que já havia usado durante a campanha eleitoral, ao chamar organizadores da Agrishow, a maior feira de tecnologia agrícola do país, realizada dias atrás, de “fascistas”, emendando ainda outros ataques. “Tem a famosa feira da agricultura em Ribeirão Preto que alguns fascistas, alguns negacionistas não quiseram que ele [Carlos Fávaro, ministro da Agricultura] fosse na feira, desconvidaram o meu ministro”, disse Lula, antes de afirmar que “eu quero dizer que eu venho nessa feira [provavelmente a Bahia Farm Show, marcada para junho] só para fazer inveja nos maus-caracteres de São Paulo que não deixaram o meu ministro participar”. A controvérsia envolvendo a Agrishow refere-se à anunciada participação do ex-presidente Jair Bolsonaro na abertura do evento, o que teria levado o presidente da feira a sugerir que Fávaro viesse no dia seguinte para evitar constrangimentos ou tumultos; em resposta, o ministro decidiu não comparecer. No fim, a cerimônia acabou cancelada.

Ao insultar produtores rurais, ameaçar retirar-lhes uma fonte importante de crédito, dar rédea solta ao MST e recompensar o movimento pelas invasões que promove, o governo dá ao agronegócio todos os motivos para desconfiança

Se a escolha dos organizadores foi ou não sensata, não nos cabe analisar neste momento – e inclusive há de se questionar se era realmente impossível que ambos os lados do espectro político nacional pudessem estar presentes no mesmo dia. Fato é que a reação do petismo foi a habitual: a de enxergar instituições de Estado como “puxadinhos” do partido, já que dois ministros chegaram a sugerir que o Banco do Brasil retirasse seu patrocínio. Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, chegou a dar como certo o fim dos patrocínios, o que acabou não acontecendo, já que o banco manteve todas as suas atividades na feira – embora a presidente do BB, Tarciana Medeiros, também tenha cancelado a presença na Agrishow, onde faria uma palestra.

Enquanto hostiliza o agronegócio e os produtores rurais por não se ajoelharem no altar de Lula, o governo continua incensando o MST. Mesmo depois da invasão de terras produtivas no Nordeste e até mesmo de uma área da Embrapa em Pernambuco, a feira do movimento, realizada no último fim de semana em São Paulo, foi prestigiada por três ministros – Fernando Haddad (Fazenda), Márcio França (Portos e Aeroportos) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) – e pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, em uma cena impensável até pouquíssimo tempo atrás, já que o oeste de São Paulo, estado que Alckmin governou por 12 anos, é uma das áreas que o MST mais insiste em aterrorizar.

Na feira, o vice-presidente se deixou fotografar com o chefão sem-terra João Pedro Stédile, que Lula já tinha prestigiado ao levar na comitiva oficial da visita à China – a foto foi a gota d’água para que Evair de Melo (PP-ES), da FPA, fizesse sua declaração sobre pontes destruídas com o governo. Alckmin ainda criticou a CPI do MST, dizendo que “já existem muitos órgãos de fiscalização”, como se não fosse atribuição do Legislativo fiscalizar o Executivo, neste caso por sua conivência e até patrocínio a uma entidade especializada em crimes no campo. Teixeira, por sua vez, disse que “o MST cada dia mais será muito importante para diminuir a desigualdade social no Brasil, para incluir o povo na terra”; só não explicou por que, então, o MST se opôs de forma tão veemente à política do governo Bolsonaro de conceder títulos de posse definitiva de terras a famílias de agricultores.

Ao insultar produtores rurais, ameaçar retirar-lhes uma fonte importante de crédito, dar rédea solta ao MST e recompensar o movimento pelas invasões que promove – a ponto de entregar superintendências estaduais do Incra a pessoas ligadas ao grupo –, o governo dá ao agronegócio todos os motivos para desconfiança. O setor tem todo o direito de ter suas preferências políticas, independentemente do que motiva suas escolhas; é o presidente da República, o chefe da nação, que não tem o direito de usar seu posto para promover retaliações contra os que não o apoiam. Mas exigir isso de alguém que demonstrou, por anos a fio, que vê o governo apenas como apêndice do partido e de si mesmo é pedir demais.

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