O ex-presidente Lula não descansa: é candidato “permanente” do PT para voltar ao cargo em 2018, segundo prega o presidente do partido, Rui Falcão. Nesta condição de “permanente”, não perde ocasião para fazer campanha política. Nem mesmo quando, na condição de réu, é chamado a prestar depoimento perante a Justiça – como ocorreu há dias, em Brasília. Durante a audiência, preferiu enaltecer a si próprio e aos governos petistas em vez de responder, com objetividade, às perguntas que lhe eram feitas. Foi uma das últimas manifestações públicas da megalomania que o acomete tão permanentemente quanto à eternidade de sua candidatura.
Na última segunda-feira, Lula protagonizou mais um ato de campanha, mal disfarçada pelo discurso condicional do “se eu for candidato”. Ele e Dilma Rousseff visitaram a obra – recém-inaugurada por Michel Temer – de um dos canais de transposição do Rio São Francisco, na Paraíba. A claque estava bem organizada: o governador paraibano providenciou ônibus e outros meios para levar multidão disposta a aplaudi-los.
Dilma rebaixa o Judiciário, mostrando que aprendeu com Lula a desprezar as instituições democráticas
Além de campanha, o ato teve também o objetivo de assumir a paternidade da obra: ela se iniciou sob o governo Lula e prosseguiu com Dilma. Portanto, a inauguração feita por Temer teria “usurpado” tal paternidade. Daí a necessidade da tal “inauguração popular”.
Não se desconhece a importância da transposição para minimizar o problema da seca que afeta secularmente a região do semiárido nordestino. Tem potencial, sem dúvida, para abastecer as torneiras de milhões de famílias e de viabilizar a exploração agrícola, especialmente as lavouras de subsistência, em grandes áreas de solo fértil do Nordeste, porém ressequido e incapaz de produzir frutos.
Faltou, porém, a Lula e Dilma explicarem-se sobre a absurda extrapolação dos prazos para entrega do canal e, sobretudo, o escandaloso desvio de verbas públicas que acompanhou o desvio das águas do São Francisco. Lula preferiu a verborragia de sua pregação populista e política, como quando lembrou serem ele próprio e sua família, como tantos milhões de brasileiros, retirantes vítimas da pobreza endêmica do Nordeste – situação que só teria melhorado sob os governos petistas: “Dava orgulho ser brasileiro pela democracia, pela alegria do povo. Hoje quem viaja tem vergonha. Deram golpe numa mulher que foi eleita democraticamente”.
De Dilma ouviu-se outra manifestação com claro tom de campanha: “Não vamos permitir um segundo golpe. O objetivo deles é impedir que candidatos populares sejam colocados à disposição do povo. O Lula é esse candidato. No tapetão, não”. Referia-se à possibilidade de o Judiciário – a quem se dirigiu com o desrespeitoso apodo de “tapetão” – condenar o ex-presidente em primeira e segunda instâncias, deixando-o inelegível. E Dilma não tem vergonha de rebaixar o Judiciário além das fronteiras nacionais, pois o discurso na Paraíba é mera repetição do que ela já havia afirmado recentemente, na Suíça.
A maneira como Dilma se refere ao Judiciário revela o mesmo desprezo pelas instituições democráticas já tantas vezes vocalizado por ela e por Lula. Ora, não há “golpe” nenhum em curso: o ex-presidente responde a processos e tem amplo direito a defesa, a ponto de seus advogados volta e meia recorrerem à estratégia de tentar tirar o juiz Sergio Moro do sério para forçar uma descompostura. Tudo está funcionando conforme manda a lei.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), diante da clara transgressão às normas que impedem campanhas antecipadas, poderia tomar as providências cabíveis. Mais grave, porém, é constatar que a “jararaca” sobrevive, a despeito do caos econômico e social que seu governo legou às gerações presente e futura do país.
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