Lula e Fernando Haddad em reunião realizada em 16 de dezembro.| Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República
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Após passar vários dias internado em São Paulo, sendo submetido a duas intervenções, o presidente Lula demonstrou estar de volta à velha forma, pois já passou a falar demais, a mentir compulsivamente e a culpar terceiros pelos problemas que ele mesmo cria. No domingo, em entrevista à TV Globo, afirmou que “a única coisa errada nesse país é a taxa de juros estar acima de 12%. Essa é a coisa errada. Não há nenhuma explicação”, acrescentando que “a inflação está quatro e pouco. É uma inflação totalmente controlada”. Em outras palavras, a responsabilidade pela deterioração da economia e das expectativas a respeito do futuro do Brasil não é do governo, mas do Banco Central e da “Faria Lima”, que o petismo quer até mesmo investigar, a julgar pela mais recente ação do deputado Zeca Dirceu.

Para início de conversa, a inflação não está em “quatro e pouco”, mas em quatro e muito, quase cinco. O acumulado de 12 meses até novembro está em 4,87%, estourando o limite máximo de tolerância para a meta de inflação deste ano, que é de 4,5% para uma meta de 3%. No mais recente relatório Focus, os agentes do mercado financeiro preveem que o IPCA fechará 2024 em 4,89%. Se a inflação de fato superar os 4,5%, o presidente do Banco Central terá de escrever uma carta ao ministro da Fazenda explicando por que a meta não foi cumprida. Como o índice deve ser divulgado apenas em janeiro, essa tarefa já caberá a Gabriel Galípolo, o escolhido de Lula para presidir o BC, e que poderia muito bem abreviar sua mensagem a Fernando Haddad dizendo apenas que “a inflação estourou a meta porque seu governo gasta demais e não faz nada para mudar isso”.

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O novo patamar de R$ 6 por dólar reflete a constatação de que não há esforço fiscal digno do nome por parte de Lula

A ata da mais recente reunião do Copom, realizada na semana passada e que terminou com a decisão unânime de elevar a Selic em um ponto porcentual, explica muito bem o que está acontecendo. O governo está bancando o crescimento do PIB pela via do estímulo ao consumo, o próprio e o das famílias. Quando afirma que “o cenário se mostra menos incerto e mais adverso que na reunião anterior”, o Copom afirma que os maiores medos em termos de pressão inflacionária se materializaram. Os diretores do BC ainda alertam para “o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública”. Nada disso é culpa nem do BC, nem do mercado financeiro: quem gasta e se endivida perigosamente é um governo que chama toda despesa de “investimento” e se recusa a fazer os cortes necessários.

A reação negativa ao anúncio do pacote de Fernando Haddad nada teve de especulação ou má vontade; é a reação natural, diante de um conjunto de medidas que não faz um corte de despesas propriamente dito, limitando-se a frear o ritmo de crescimento real (acima da inflação) das despesas governamentais. Ainda que o fim de ano seja naturalmente uma época de pressão sobre o câmbio devido à demanda das empresas multinacionais por dólares para remeter às matrizes no exterior, o novo patamar de R$ 6 por dólar reflete a constatação de que não há esforço fiscal digno do nome por parte de Lula. É salutar recordar que o ciclo de desvalorização do real em 2024 se intensificou quando o governo mudou a meta de resultado primário de 2025 e 2026, indicando o desinteresse ou a incapacidade (mais provavelmente, as duas coisas juntas) de Lula de conter os gastos e estabilizar a dívida pública como porcentagem do PIB.

“Ninguém nesse país, do mercado, tem mais responsabilidade fiscal do que eu. [...] Entreguei esse país, sabe, numa situação muito privilegiada”, disse ainda o presidente, achando que convence alguém a respeito de seu compromisso fiscal. Quanto a “entregar o país em situação privilegiada”, não custa recordar que os indicadores de PIB e resultado primário do fim do segundo mandato do petista, de 2007 a 2010, são consequência do início da implantação da “nova matriz econômica” lulopetista, capaz de gerar bons números no curtíssimo prazo enquanto semeava, no médio prazo, a pior recessão da história do país, em uma combinação de estímulo irresponsável à despesa (exatamente como hoje) e maquiagem nas contas, que hoje o governo consegue realizar de outra maneira, ao retirar dos cálculos oficiais do arcabouço fiscal diversos tipos de despesa.

Logo depois de criticar os juros, Lula emendou um “nós vamos cuidar disso também”, sem dizer como exatamente faria isso, mas lançando uma sombra de dúvida sobre a atuação de Galípolo à frente do Banco Central. Até agora, ele tem se mostrado responsável, ajudando inclusive a formar unanimidades nas elevações da Selic que tanto irritam Lula. Se é tudo uma máscara que cairá assim que ele tomar posse na presidência do BC e os indicados por Lula se tornarem maioria do Copom, saberemos na próxima reunião, que deve terminar com outra elevação de um ponto “em se confirmando o cenário esperado” – e tudo aponta para a confirmação desse cenário. Galípolo tem diante de si duas opções: defender a independência do BC, fazendo o que tem de ser feito, ou tornar-se um novo Alexandre Tombini. A escolha é simples, mas depende do que ele considera mais importante: o bem do país ou a vontade de quem o indicou ao posto que passará a ocupar em janeiro.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]