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Nos pronunciamentos que inauguraram o segundo mandato, o presidente Lula expressou uma posição reformista, reiterando declaração recente de que as pessoas tendem a evoluir da esquerda para a direita à medida que ganham idade. Na ocasião, a fala de Lula despertou tempestade de críticas entre esquerdistas veteranos, inclusive em círculos do Paraná, mas o presidente da República reconheceu o fato óbvio: os incendiários da juventude se tornam bombeiros ao amadurecer. A mesma regra vale para as sociedades em suas rupturas históricas, como revoluções: após a fase de mobilização, a tendência é a volta à estabilidade.

Afastar-se desse processo evolutivo é exceção que se conta nos dedos, geralmente envolvendo pessoas de formação intelectual ou, mais rasteiramente, atores que tiram proveito de um ideário oposto à ortodoxia reinante. Na direita, o governo limita-se a observar um conjunto de leis que garantam expressão às forças econômicas do mercado; já a esquerda é conhecida por sua preocupação "com os mais pobres e o social" – conforme declarou um político paranaense.

No primeiro caso o governante valoriza a segurança jurídica, mantém baixa a carga de tributos e de leis sobre a atividade produtiva. No segundo a intervenção do poder público é ampliada, há restrição ao exercício privado de diversas atividades e se multiplicam programas "solidários", "fraternos", "familiares" e assim por diante. Em suma, a direita destaca a liberdade; a esquerda, a igualdade.

A frase de Lula que despertou a contrariedade dos intelectuais diz, em sua simplicidade textual, que "se você conhecer uma pessoa muito idosa esquerdista, é porque ela está com problema; se você conhecer uma pessoa muito nova de direita, ela também está com problema". Mais recentemente, em evento de seu partido, o presidente se declarou um "socialista democrático". Um ícone da esquerda nacional, o deputado Fernando Gabeira, vê coerência na fala de Lula: "Com o fim do socialismo real, nós todos nos aproximamos do centro".

Direita e esquerda se tornaram conceitos fluídos nesta era da globalização – reconheceu o pensador italiano Norberto Bobbio. A China e o Vietnã, nominalmente governados por partidos marxistas, exibem vistoso sucesso capitalista – tornaram-se reformistas; enquanto países que se afirmam "de direita" resistem a mudanças. No Brasil, a universidade pública favorece a elite da juventude, enquanto os mais pobres são forçados a estudar em faculdades pagas. Ainda, antes a telefonia estatal era privilégio tão restrito que a posse de uma simples linha figurava na declaração de renda; hoje, 100 milhões de brasileiros possuem um aparelho celular, que, além de comunicação, se tornou instrumento de trabalho para profissionais autônomos.

Neste mundo complicado – analisa a comentarista Míriam Leitão – ser de direita ou esquerda se tornou um clichê que, em mãos desonestas, tende a alimentar em vez de atenuar desigualdades.

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