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Editorial

A omissão cúmplice de Lula diante da violência de Maduro

Mais de 1,2 mil pessoas já foram presas arbitrariamente na Venezuela por protestarem contra fraude de Maduro
Pessoas protestando em Caracas, na Venezuela, contra a repressão da ditadura de Nicolás Maduro. (Foto: EFE/Henry Chirinos)

A reação internacional à farsa promovida por Nicolás Maduro para se manter no poder na Venezuela se divide em dois grandes grupos: autocratas e ditadores mundo afora, como os de Cuba, Nicarágua, China e Rússia, correram para enviar suas mensagens de parabéns ao ditador venezuelano. Já o Ocidente democrático, especialmente Estados Unidos e União Europeia, se recusaram a reconhecer o resultado proclamado pela autoridade eleitoral chavista, mesma postura do presidente esquerdista do Chile, Gabriel Boric – os EUA chegaram inclusive a reconhecer o oposicionista Edmundo González como vencedor do pleito de 28 de julho. Mas há um terceiro grupo, formado por presidentes latino-americanos da esquerda mais radical e que, mesmo não sendo eles mesmos autocratas, colaboram com o ditador escondendo-se sob uma pretensa prudência: o mexicano Andrés Manuel López Obrador, o colombiano Gustavo Petro e o brasileiro Lula.

Três dias depois do teatro chavista, o trio se absteve na votação de uma resolução da Organização dos Estados Americanos (OEA) que cobrava a divulgação imediata das atas de votação – bastava o apoio de apenas um desses países para que o texto fosse aprovado, já que ele teve o endosso de 17 outras nações e eram necessários 18 votos. Em entrevista, Lula minimizou a situação venezuelana e tratou a disputa entre Maduro e a oposição democrática como algo que poderia ser resolvido normalmente pela Justiça do país, convenientemente omitindo que o Judiciário é todo aparelhado pelo chavismo – a mesma ingenuidade calculada que aparece na primeira nota, datada de 1.º de agosto, em que Brasil, Colômbia e México pediam a divulgação dos dados, afirmando que “as controvérsias sobre o processo eleitoral devem ser dirimidas pela via institucional”.

Não condenar a violência em curso, olhando convenientemente para o outro lado enquanto Maduro vai massacrando sua população, não tem nada a ver com neutralidade ou prudência; é conivência com o ditador

Na última quinta-feira, dia 8, os três países reforçaram o pedido de forma muito amena. Falam, por exemplo, da “conveniência de que se permita a verificação imparcial dos resultados” (destaque nosso), sendo que tal verificação não é mera conveniência, mas um imperativo. De qualquer forma, passadas quase duas semanas do dia em que os venezuelanos foram às cabines de votação, é cada vez mais provável que o Conselho Nacional Eleitoral bolivariano jamais apresente as atas – a bem da verdade, já houve até tempo suficiente para a fabricação de atas forjadas que coincidam perfeitamente com o resultado anunciado pelo CNE. E os três países não dão nenhuma pista sobre qual seria seu próximo passo caso Maduro ignore o pedido dos colegas.

Especialmente surreal é o trecho em que Brasil, México e Colômbia “reiteram o chamado aos atores políticos e sociais do país para que exerçam a máxima cautela e moderação em manifestações e eventos públicos e às forças de segurança do país para que garantam o pleno exercício desse direito democrático dentro dos limites da lei”. O chamado à não violência, por óbvio, é totalmente razoável, mas os signatários mais uma vez ignoram que, na Venezuela, a lei é o que Maduro quer que seja, e simplesmente opor-se a ele já é um crime na prática, mesmo que não no papel. Além disso, a repressão já está deflagrada: mais de 1,2 mil pessoas já foram presas, de cidadãos anônimos a líderes políticos oposicionistas; uma das coordenadores da campanha de González foi sequestrada; jornalistas que cobraram protestos contra Maduro foram presos e processados por terrorismo. Maduro já chegou a dizer que González e María Corina Machado, o principal nome da oposição, “têm de estar atrás das grades”. A esse respeito, nem Lula, Petro e López Obrador, nem seus chanceleres disseram uma única palavra.

Não condenar a violência em curso, olhando convenientemente para o outro lado enquanto Maduro vai massacrando sua população – inclusive nas favelas, onde há inúmeros relatos de repressão conduzida pelos colectivos paramilitares –, não tem nada a ver com neutralidade ou prudência; é conivência com o ditador. Isso é especialmente grave no caso brasileiro, já que, embora a Colômbia sinta de maneira mais forte os efeitos da diáspora venezuelana, o grande fiador do regime de Maduro é Lula. O venezuelano sabe que, mesmo sem ter (ainda) o reconhecimento oficial de sua “vitória” pelo Brasil, já foi respaldado pelo petista tantas vezes que pode fazer o que faz sem medo de uma reprimenda séria por parte do vizinho mais importante. Lula e o PT ajudaram a criar a ditadura venezuelana, e o petista, em seu terceiro mandato, já se mostrou disposto a bancar a reabilitação do camarada diante da comunidade internacional. Assim, são também responsáveis pelo triste destino do povo venezuelano em geral e daqueles que, em particular, sofrem mais fortemente na pele o porrete chavista.

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