Ex-ministro Henrique Meirelles se com Lula em ato com ex-presidenciáveis.| Foto: Ricardo Stuckert/PT
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Planos de governo são peças que, se muitas vezes acabam esquecidas por aqueles que são eleitos, não deixam de ser um indicador importante a respeito da direção que um candidato pretende imprimir em seu mandato caso vença as eleições. Durante a campanha, podem ser submetidos ao escrutínio da imprensa, de especialistas em cada área e, principalmente, do eleitor, que tem todo o direito de saber como os postulantes a um cargo executivo pretendem governar. Todos os candidatos à Presidência da República em 2022 entregaram seus planos ao Tribunal Superior Eleitoral – menos Lula, que se contentou em apresentar à corte eleitoral apenas diretrizes genéricas, desejando assim um “cheque em branco” do brasileiro, de preferência ainda no primeiro turno para não ter de ver suas ideias e sua biografia questionadas por mais quatro semanas.

Não que a sociedade não saiba as linhas gerais do programa lulopetista: estatismo exacerbado, descontrole no gasto público, controle da imprensa e da sociedade civil organizada, reversão de avanços importantes no campo trabalhista, retomada da camaradagem com ditaduras latino-americanas, hostilidade ao agronegócio e recrudescimento dos conflitos no campo com o fortalecimento do “exército de Stédile”, promoção do aborto e da pauta identitarista... tudo isso já foi defendido pelo próprio Lula ou por outros líderes petistas ao longo da campanha, mas sem a formalização que viria com o protocolo de um plano no TSE.

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Um desempenho de 20 anos atrás e o mero fato de não ser Jair Bolsonaro não bastam para que Lula venha pedir voto ao brasileiro, muito menos para convencer eleitores de outros candidatos a migrar para sua candidatura já no primeiro turno

A estratégia, em primeiro lugar, é um enorme desrespeito ao eleitor e a seu direito de conhecer com maiores detalhes o que cada candidato propõe. Mas ela também serve a outro propósito: o de poder misturar o discurso radical que mobiliza a militância com acenos que cooptam mais apoios entre aqueles que não estão automaticamente alinhados ao petismo. Ao tratar seu plano como uma “metamorfose ambulante”, sujeito a alterações até o último momento, Lula consegue puxar para seu palanque alguém como Henrique Meirelles – apesar de ele ser filiado a um partido que tem candidato próprio ao Planalto –, o pioneiro do recente ajuste fiscal que Lula quer deixar para trás.

Sem definir um plano de governo, Lula se limita a repetir indicadores do período 2003-2010 e quer fazer o eleitor acreditar que basta apertar seu número na urna que aqueles tempos retornarão. No entanto, o contexto econômico em que Lula venceu sua primeira eleição, 20 anos atrás, é radicalmente diferente do atual. Além disso, o petista esconde um detalhe importante: se no início de seu período no Planalto o tripé macroeconômico herdado de Fernando Henrique Cardoso foi respeitado, garantindo a sensatez na política econômica, foi no fim da passagem de Lula pela Presidência que foram lançadas as bases da “nova matriz econômica” que o “poste” por ele escolhido para sucedê-lo aplicou à risca, causando a pior recessão da história do país. Não há como dissociar a era Lula da era Dilma, apesar dos esforços do PT em apagar da história os anos finais do partido no poder.

Um desempenho de 20 anos atrás e o mero fato de não ser Jair Bolsonaro não bastam para que Lula venha pedir voto ao brasileiro, muito menos para convencer eleitores de outros candidatos a migrar para sua candidatura de forma a resolver a disputa já no primeiro turno. Sem plano de governo, o petista quer que os brasileiros embarquem em um voo cego, recorrendo ao proverbial “la garantia soy yo”, demonstrando mais uma vez aquela arrogância de quem se julga o único capaz de salvar o Brasil sem precisar dizer como o fará caso volte ao Planalto.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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