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Durante a 2° Assembleia da Associação dos Legisladores do Morena e partidos aliados, na Cidade do México, o ex-presidente Lula deu uma declaração translúcida sobre suas intenções caso seja eleito para Palácio do Planalto em outubro: "Eu tenho avisado para as empresas nas entrevistas: não comprem as empresas públicas brasileiras, porque, se nós ganharmos as eleições, vamos querer rediscutir”. Em seguida, disse que seu governo não vai abrir mão “do patrimônio que foi construído pelo povo brasileiro”, numa mensagem taxativa que deveria servir de alerta ao mercado sobre os rumos de um eventual novo governo petista.
Ironicamente, a liderança nas pesquisas de opinião parece estar levando o ex-presidente a não se preocupar tanto com moderação nos discursos, ostentando com surpreendente frequência seu ímpeto estatizante e interventor, o mesmo que tentou amenizar no passado, em outras circunstâncias. Já falou em regular os meios de comunicação, desfazer a reforma trabalhista e, agora, reverter os avanços das privatizações em curso, principalmente a da Eletrobrás e dos Correios.
Durante mais de uma década, a esquerda conseguiu imprimir na população brasileira a ideia de que empresas estatais são “patrimônio do povo”, como se este se confundisse de maneira indissociável com o próprio Estado. A rapinagem que se viu durante a gestão PT nas maiores estatais do país ajudou a despertar a consciência dessa diferenciação para grande parte do povo. Na prática, o brasileiro pagava caro por serviços de péssima qualidade, enquanto o partido governante e seus próceres tratavam as empresas como fontes ilimitadas de ganhos escusos e instrumentos de poder.
Isso se deu, em parte, pela notável baixa capacidade histórica da antiga oposição ao petismo de defender o legado positivo das privatizações implementadas desde a década de 1990. Antes da privatização das empresas de telecomunicações, por exemplo, os brasileiros demoravam anos para conseguir uma linha telefônica, que se tornava praticamente uma herança a ser passada de pais para filhos nas mãos de seus usuários. Caso a visão esquerdista tivesse predominado na condução da economia nesse aspecto, o Brasil teria perdido os benefícios dos incrementos em telecomunicações que permitiram a popularização da internet, dos smartphones e a modernização de inúmeros negócios e serviços que facilitam a vida da população.
Pleito após pleito, a esquerda nunca foi capaz de se desapegar do falacioso conceito de “patrimônio construído pelo povo” ao se referir às estatais, até que os escândalos da Petrobrás revelados pela Lava Jato mostraram para a população quem de fato era o usufrutuário de toda essa riqueza.
O novo recado de Lula é claramente voltado aos setores do funcionalismo que se veem ameaçados com a agenda de privatizações, e direciona-se também a um dos grandes elementos de entrave para o seu avanço: o chamado Centrão, esse agregado de parlamentares fisiológicos no Congresso Nacional, que consideram as estatais como feudos, nos quais se reservam cargos vantajosos, um ativo a sempre ser negociado com o Palácio do Planalto para garantir a governabilidade. Lula sabe disso, e procura atiçá-las para que operem em ano eleitoral no sentido de paralisar o avanço das privatizações, pois num possível retorno seu à presidência, cada um dos que colaborarem com seu projeto receberá sua recompensa. Ao menos, essa é a implícita promessa.
Na prática, o brasileiro pagava caro por serviços de péssima qualidade, enquanto o partido governante e seus próceres tratavam as empresas como fontes ilimitadas de ganhos escusos e instrumentos de poder
Esta Gazeta do Povo defende que privatizações são uma questão de princípio. O Estado não deve atuar na atividade econômica quando estão em jogo tarefas que a iniciativa privada pode desempenhar sem problemas. A violação reiterada do princípio da subsidiariedade atrofia a sociedade civil e o mercado, o verdadeiro motor de desenvolvimento de uma nação. Um grande número de estatais altera os padrões normais de concorrência, desestimula as inovações em face de competidores privilegiados e estimula a corrupção generalizada.
Novamente, é muito importante que a sociedade atente para as palavras do ex-presidente Lula. Particularmente, certos setores do mercado que sentem atraídos pelo progresso artificial produzido na era petista, sem perceberem os riscos que correm de atuarem como fiadores do retrocesso. Se eleito um candidato que ostenta um projeto econômico desses, antes que as forças de oposição possam se organizar novamente, o estrago estará feito, com o esfacelamento da nossa credibilidade no exterior e uma situação econômica bem pior do que a que atualmente nos encontramos.