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Editorial

Luta sem trégua

A constatação vem do Índice de Fome Global, do Instituto de Pesquisas sobre Políticas Alimentares, organização com sede em Washington: em 20 anos, o Brasil reduziu pela metade o problema da fome. De zero a cem, no ranking elaborado em 1981 o país integrava o bloco dos países com problemas "graves", ficando com a pontuação 10,43. Há três anos, segundo os dados que fecharam o mais recente período de análise, a pontuação melhorou, caindo para 5,43%, ou seja, o Brasil passou para o grupo de países com problemas "moderados" de fome.

O Índice de Fome Global focaliza 119 nações pobres ou emergentes. Leva em consideração, principalmente, fatores como mortalidade infantil, desnutrição infantil e o número de pessoas com deficiência alimentar.

Outro levantamento, do mesmo instituto, deu contornos mais dramáticos à questão. Divulgado simultaneamente à pesquisa, indicou a existência de cerca de 815 milhões de pessoas passando fome no mundo. E são pelo menos 127 milhões de crianças com insuficiência alimentar.

Como a ONU tem alertado seguidamente, lançando apelos aos países mais desenvolvidos e ricos, o panorama é mais grave em regiões da África subsaariana.

Os mesmos índices e estudos da Fome Global, no entanto, comprovam que, na maior parte da Ásia onde a "Revolução Verde" aumentou a oferta de alimentos, "a fome e a desnutrição registram queda desde os anos 80". Não há, é claro, o que comemorar, já que muitos países do Sudeste Asiático registraram os piores resultados quanto à mortalidade infantil. Isso porque enfrentaram outra espécie de tragédia, as guerras civis ou conflitos igualmente violentos.

No Cone Sul, o Brasil, apesar dos avanços, ainda não desfruta de uma posição tranqüilizadora. Na Argentina, mesmo com as crises que marcaram o período entre 1997 e 2003, o indicador caiu de 2,93 para 1,81. No mesmo período, o Chile apresentou trajetória e indicadores semelhantes aos da Argentina. Cuba, mesmo enfrentando todo o embargo econômico norte-americano, tem uma pontuação de 2,57 na lista da fome.

Os países andinos fizeram "progressos significativos" nos últimos 20 anos, mas continuam em situação pior que a do Brasil. A Bolívia, por sua vez, é o único país sul-americano na posição "grave" do ranking.

Como romper a cadeia da fome? Para a pesquisadora Doris Wiesmann, do Instituto Fome Global e criadora da metodologia, deve-se apostar, entre outras iniciativas, nos programas de distribuição de recursos, como o Bolsa-Família. Tal posição desagrada aos que defendem como efetivo combate à fome iniciativas que atinjam "as causas estruturais da miséria", acompanhadas de uma série de políticas públicas a partir de uma oferta de educação pública de qualidade para todos. Simplificando, com a velha máxima: é preciso ensinar a pescar, e não dar o peixe.

Ocorre que, à espera de resultados como o crescimento do bolo para que então venha a ser repartido, milhões de pessoas morrem à míngua. Cabe ao Estado sair em socorro dos excluídos, enquanto ainda estão vivos.

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