Entre as consequências inevitáveis do socialismo estão a miséria e a fome. A grande maioria dos países onde este regime foi implantado, a população sofreu não apenas com a privação da liberdade e da democracia, mas sentiu no próprio corpo as consequências da ditadura de esquerda. Em alguns casos, a fome ocorre como resultado de políticas econômicas equivocadas, como a coletivização forçada das fazendas e a destruição da iniciativa privada. Em outros, ela é desejada como meio de subjugar o povo. Foi o caso do Holodomor, em que a ditadura soviética deliberadamente privou os ucranianos de alimento, provocando um genocídio que deixou milhões de vítimas na década de 30 do século passado. Até agora, a fome que hoje aflige os venezuelanos podia ser classificada naquele primeiro caso. Mas Nicolás Maduro acabou de provar que está menos para Mao Tsé-tung e Pol Pot e mais para Stálin: o boliviariano, com suas atitudes recentes, mostrou que deseja ver a Venezuela perecer de fome.
O ditador que insiste em ocupar ilegalmente a presidência da Venezuela passou muito tempo negando a existência de uma emergência humanitária em seu país, mesmo com os relatos de bebês morrendo de desnutrição e adultos caçando comida no lixo para alimentar suas famílias. Muito relutantemente, no fim de 2018, Maduro aceitou US$ 9,2 milhões em ajuda da Organização das Nações Unidas, mas nos últimos dias o ditador, que ainda conta com o apoio das Forças Armadas, vem fechando as fronteiras do país. Primeiro, bloqueou a fronteira marítima com as ilhas holandesas de Aruba, Bonaire e Curaçao, próximas ao litoral venezuelano. Na quinta-feira, fez o mesmo na fronteira terrestre com o Brasil. E, agora, considera repetir a dose na fronteira com a Colômbia. Tudo para impedir que toneladas de alimentos e medicamentos enviados pelos Estados Unidos e outros países, como o Brasil, não cheguem à população neste sábado, por terra ou mar.
Como os militares reagirão quando milhares de venezuelanos famintos tentarem cruzar as fronteiras para receber a ajuda humanitária?
O esforço de Maduro em garantir que os venezuelanos não recebem a ajuda humanitária já levou a mortes na região de fronteira com o Brasil. Na manhã de sexta-feira, índios da etnia pemón tentaram impedir que militares venezuelanos rumassem para o sul, para integrar o bloqueio ordenado por Maduro. Como resultado, dois homens uniformizados abriram fogo contra os indígenas, matando um e ferindo outros 12 deles. O ataque das forças de Maduro é um péssimo presságio sobre o que pode acontecer neste sábado. Como os militares reagirão quando milhares de venezuelanos famintos tentarem cruzar as fronteiras para receber a ajuda humanitária? Permitirão que seus compatriotas recebam o socorro de que necessitam desesperadamente, ou abrirão fogo contra o próprio povo – como, aliás, as tropas bolivarianas e os coletivos paramilitares já fizeram em outras ocasiões, especialmente durante os protestos de rua contra Maduro?
Artigo de Juan Guaidó: Como o mundo pode ajudar a Venezuela (1.º de fevereiro de 2019)
O ditador, que classifica o envio de alimentos e remédios como uma “intervenção imperialista americana”, já se antecipou e culpou preventivamente o presidente colombiano, Iván Duque, “por qualquer violência na fronteira”. Mas este é o tipo de retórica que deve convencer apenas os chavistas mais fanáticos. Se houver violência na fronteira, é muito mais provável que ela parta dos bolivarianos armados, não dos venezuelanos famintos – e há muito tempo desarmados –, nem de tropas dos países vizinhos que porventura estejam nas regiões fronteiriças para auxiliar na distribuição da ajuda humanitária.
Ao bloquear a entrada de itens básicos e escassos no país, como alimentos e medicamentos, Nicolás Maduro assume seu lugar na história latino-americana como um carniceiro, um adversário de seu próprio povo, alguém que não se incomoda em fazer os venezuelanos morrerem de fome em nome do projeto de poder socialista. Esse movimento mostra a necessidade de a comunidade internacional reforçar sua união em torno do presidente interino, Juan Guaidó, buscando novos meios de apertar o cerco contra Maduro e cortar as fontes externas de financiamento dos bolivarianos.