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Com apoio de dezenas de entidades, inclusive do Paraná, foi lançado o movimento "Quero mais Brasil, hoje", que rejeita o mote de país do futuro ao pregar desempenho para o crescimento, emprego e renda. A iniciativa "a favor do Brasil" convoca a cidadania para a construção de um país melhor. No mínimo ela fixa a agenda para a eleição, obrigando os candidatos a adensarem o discurso político, tradicionalmente caracterizado por muita encenação e pouco conteúdo.

De fato, é preciso ir além dessa modelagem que o acadêmico francês Patrick Charandeau chama de "estratégia da imprecisão", em que líderes públicos ou aspirantes se entregam ao uso abundante de metáforas e imagens, à direita e esquerda. A mobilização iniciada na capital paulista e prestes a ganhar o Paraná pode não ter maior conseqüência do que resgatar o inconformismo com os índices medíocres do desempenho de nosso país – mas isso já será bom.

Em artigo recente, o professor Hélio Jaguaribe argumenta que ao se deixar ultrapassar por sucessivas ondas de expansão histórica – da Revolução Industrial à recente emergência de novas potências asiáticas – nosso país (e o continente onde se insere, a América Latina) pode estar enfrentando novo dilema: recuperar-se enquanto ainda pode fazê-lo, ou "mergulhar num declínio" prolongado. Lamentando não observar tais "urgências e premências do país" no processo eleitoral que começa, Jaguaribe propõe uma utopia: "O ideal é que o futuro governo disponha da capacidade mobilizatória de Lula e da competência do PSDB".

A competência técnico-gerencial é fundamental para recuperar um país dotado de recursos em território, população e base produtiva – destaca Jaguaribe. Na mesma linha, o ex-presidente Fernando Henrique adverte: "Se os governos e a sociedade não perceberem que a nossa hora é agora, com um crescimento demográfico longe de ser explosivo e uma população que ainda não é velha, talvez percamos de vez o bonde; a sociedade brasileira tem que acelerar o passo".

Na década de 1960 dois autores teorizaram sobre as limitações das pessoas, de um piso imaginário ao teto da competência. No caso, ambos os líderes políticos citados mostraram limitações no exercício do poder. Fernando Henrique debelou a inflação com o Plano Real, mas recaiu num "esterilizante neoliberalismo econômico" – acusa o professor Jaguaribe.

Quanto ao governo atual as deficiências gerenciais estariam anulando, no plano administrativo, "o extraordinário poder carismático de Lula". Talvez por isso o governante tenha insistido no mesmo viés de privilegiar a gestão financeira, repetindo o erro estratégico de FHC – embora ambos se proclamem políticos de esquerda – deixando de acudir a agricultura, penalizada por três anos de crises; a indústria, vitimada por uma desindustrialização precoce e os pequenos negócios, sufocados pela carga de impostos e burocracia.

Mas ainda é tempo e, não sendo possível corrigir tais falhas de momento, a agenda eleitoral deve renovar as esperanças dos que "querem mais Brasil já".

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