O grave acidente ocorrido com um avião de passageiros da Tam no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, é a mais acabada evidência do "apagão" aéreo que desde o ano passado afeta o Brasil. A dramática ocorrência de ontem traumatiza o país e reclama uma providência enérgica e definitiva por parte das autoridades do governo federal para pôr fim à situação de descalabro em que o setor aéreo vem se arrastando resposta devida à opinião pública em observância ao paradigma democrático de responsabilidade do governante por seus atos.
Uma agravante desta tragédia é que a pista do aeroporto de Congonhas que levou o avião a derrapar, a atravessar uma movimentada avenida da cidade e a chocar-se com um hangar da própria companhia e com um posto de gasolina havia sido objeto de reparo recente por parte da estatal encarregada da administração dos aeroportos, a Infraero. Na segunda-feira já havia sido dado um sinal de que as obras poderiam não seguir os padrões básicos de engenharia: outra aeronave comercial havia sofrido uma derrapagem que a projetou no gramado divisório, felizmente sem maiores conseqüências para os passageiros.
A seqüência infausta registrada ontem, com a queda e o choque do avião procedente de Porto Alegre, onde estavam mais de 150 passageiros, veio completar o rol de problemas nas pistas de Congonhas. A cada dia acumulavam-se evidências de que o aeroporto concebido nos tempos dos aviões a hélice não comportava o pesado movimento de grandes jatos comerciais que nele operavam. A concentração de escalas nesse campo de pouso decorreu do mau gerenciamento da malha aérea brasileira, por força das deficiências técnicas que se avolumam no setor e que tiveram exposição pública nos últimos dez meses, desde o acidente entre um jato Legacy e o avião da Gol na selva amazônica; depois, nos motins de controladores de vôo, atrasos e superlotações de aviões de linha, a indefinição das autoridades quanto a soluções efetivas e, por fim, o dramático acidente de ontem.
A esta altura os observadores bem informados não hesitam em listar, dentre as medidas necessárias, a imediata substituição de toda a cadeia de gestão do setor aéreo, cessando o processo de rateio partidário para o provimento de cargos na Infraero e segmentos afins; seguindo-se uma salutar e bem conduzida privatização dos aeroportos de maior porte para concessionárias bem administradas, que melhor se empenhariam na competição por serviços de qualidade solução corrente em outros países.
No Paraná, por exemplo, o aeroporto da área metropolitana de Curitiba o Afonso Pena, só comporta o carregamento de 10% das mercadorias exportadas por empresas paranaenses, por falta de capacidade de embarque em função da limitação da pista. A crise aérea desdobra-se em problemas de infra-estrutura, aparelhamento partidário e outros descasos burocráticos que retardam a marcha do país para o desenvolvimento, a segurança e a confiabilidade.