As chuvas que castigam o Rio de Janeiro desde segunda-feira não são nenhuma novidade nesta época do ano na região. Por estar localizada entre o mar e as montanhas, a cidade é vítima recorrente das enchentes. Os registros mais antigos datam do século 19, e mostram que em março de 1882 e abril de 1883 duas ruas ficaram alagadas. Além disso, em abril de 1888 a cidade ficou toda submersa.

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Já no início do século passado, em março de 1911, as chuvas provocaram inundação e desmoronamentos. Em janeiro de 1966, cerca de 250 pessoas morreram devido às chuvas, que também deixaram mais de 50 mil desabrigados. Um ano depois, 300 pessoas morreram vítimas das chuvas de 20 de janeiro, sendo que dois prédios foram soterrados por deslizamentos. Em 1987, o saldo foi de 292 mortos em decorrência dos temporais que afetaram todo o estado do Rio em fevereiro. Em 1996 foram contabilizados cerca de 10 mil desabrigados e 71 mortos em deslizamentos e inundações como resultado das chuvas de fevereiro.

Por nossas condições geográficas, as chuvas torrenciais não parecem que vão parar, nem temos como prever quando elas chegarão em tempo suficiente para garantir a segurança de famílias que habitam regiões com risco de desmoronamentos. Mas o número de mortes , que se repetem a cada época de chuvas, poderia ser reduzido sensivelmente se o poder público desse a devida atenção ao problema.

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A cada tragédia, especialistas repetem a mesma receita: estudar processos geológicos da região, ou seja, descobrir onde pode haver alagamentos, desmoronamentos ou deslizamentos; evitar a ocupação dessas áreas; e ter uma defesa civil estruturada, com ações estabelecidas em um plano diretor para o caso de emergências.

Não é o que tem acontecido.

O que vemos é um grande descaso. Em 2009, o estado do Rio recebeu apenas 1% das verbas do Ministério da Integração Nacional destinadas ao Programa de Prevenção e Preparação para Desastres. O valor que chegou até os governantes fluminenses de R$ 1,6 milhão não é suficiente para intervenções relevantes. Segundo autoridades de Defesa Civil do estado, um plano de remoção preventivo de 100 barracos em área de risco em um morro custaria pelo menos R$ 4 milhões.

Além disso, até agora, não se viu grandes esforços dos governantes locais para a retirada das famílias dessas áreas de risco. E justamente essas construções ilegais que tomaram conta dos morros são um dos motivos que mais contribuem para as enchentes. E os habitantes desses barracos sempre estão entre as vítimas.

O caso do Rio de Janeiro é emblemático. A população cresceu exponencialmente a partir da segunda metade do século 20 por causa do intenso êxodo rural. Como a cidade não conseguiu absorver o grande contingente populacional, as pessoas foram ocupando os morros e as beiras dos rios. Não houve gerenciamento do poder público, que praticamente assistiu de camarote a essa ocupação desordenada, e, assim, o solo foi se tornando impermeável, devido à grande quantidade de concreto e de asfalto.

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Para piorar a situação, há ainda o descarte inadequado do lixo, que entope bueiros e esgotos, o que dificulta ainda mais o escoamento da água da chuva. Resultado: trânsito parado, carros e ônibus com água passando do teto, deslizamentos, desmoronamentos e muitas mortes.

Chuvas, terremotos, furacões, enfim, fenômenos naturais, não podem ser evitados pelo homem. Mas suas consequências podem sim ser minimizadas por ações preventivas. Haja vista o exemplo do Japão, que está localizado em cima da junção de placas tectônicas, o que faz com que terremotos sejam constantes na região. Não podendo evitá-los, os japoneses criaram construções mais resistentes a essa força da natureza e prepararam suas equipes de defesa civil para atuar rapidamente e de forma adequada sempre que um terremoto de grande magnitude atinge a região. Já passou da hora de as autoridades brasileiras tomarem medidas nesse sentido. Basta ter vontade.