Com sua sequência de previsões furadas, o ministro da Fazenda não se torna apenas um personagem caricato; ele ajuda a colocar em risco a credibilidade do Brasil no exterior
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, se especializou em errar previsões. Para recordar apenas algumas, já que a lista é infindável: em dezembro de 2011, ele previa entre 3% e 3,5% para o crescimento do PIB daquele ano. O resultado foi de 2,7%. Após a primeira reunião ministerial de 2012, Mantega afirmou, em entrevista coletiva: "4% é o mínimo, 5% é o padrão, teto. Portanto, 4,5% é o centro". No meio do ano passado, chamou de "piada" uma previsão do Credit Suisse segundo a qual o PIB brasileiro cresceria 1,5% naquele ano. No fim, o país cresceu 1% (segundo a revisão divulgada dias atrás pelo IBGE. O dado original era 0,9%).
Neste ano, a história volta a se repetir: Mantega começou o ano prevendo mais de 4% de crescimento; em março, já tinha reduzido as expectativas e falava de 3% a 4%. Em agosto, disse que o governo trabalhava com a possibilidade de 2,5%. Foi exatamente esse número que provocou o mais recente vexame do ministro. Na véspera da divulgação do PIB do terceiro trimestre de 2013, Mantega dizia que o crescimento em relação ao mesmo período de 2012 seria justamente de 2,5%. O dado divulgado na terça-feira pelo IBGE indicava variação de 2,2%.
Talvez cansado de errar previsões de curto prazo, o ministro agora parte para previsões de longo prazo. Em uma tentativa de minimizar os dados ruins que estavam a caminho, Mantega disse na segunda-feira, em um evento em São Paulo, que o país deve crescer a uma média de 4% ao ano até 2024. Perto das festas de fim de ano, parece mais fácil acreditar em Papai Noel e nas inevitáveis previsões de astrólogos e outros videntes do que em Guido Mantega. Se o ministro da Fazenda não parece capaz de prever corretamente o PIB do mês que vem, que condições ele tem de traçar prognósticos para a economia brasileira daqui a dez anos?
Com sua sequência de previsões furadas, Guido Mantega não se torna apenas um personagem caricato; ele ajuda a colocar em risco a credibilidade do Brasil no exterior. Se a palavra do ministro da Fazenda a respeito do crescimento do país vale tanto quanto uma nota de R$ 3, o mercado financeiro fica com todos os motivos do mundo para duvidar de tudo o mais que ele diga. Não por acaso a revista britânica The Economist, em dezembro do ano passado, sugeriu a Dilma Rousseff que se livrasse de Mantega, não apenas por suas "previsões superotimistas que perderam a confiança dos investidores", mas pela sua maneira excessivamente intervencionista de conduzir a economia. Dilma reagiu mal à crítica (como, aliás, costuma fazer com qualquer questionamento, como mostrou editorial da Gazeta de terça-feira), e seis meses depois a revista usou de ironia, pedindo à presidente que mantivesse Mantega, "afinal, ele é um sucesso". Na verdade, Dilma parece estar aprendendo com seu ministro. "Esta semana resolveram reavaliar o PIB. E o PIB do ano passado, que era 0,9%, passou para 1,5%. Nós sabíamos que não era 0,9%, que estava subestimado o PIB", disse ao jornal espanhol El País no fim de novembro. Em vez de 1,5%, a revisão apontou para 1%.
O governo federal já gasta descontroladamente, precisa fazer malabarismo com os dados da contabilidade para fechar o ano, se mete em todos os aspectos da economia, e sacrifica suas estatais em nome de políticas populistas. Ainda que o ministro da Fazenda fosse um poço de discrição, isso já bastaria para arriscar a reputação do Brasil no mercado internacional. A parolagem de Mantega só piora a situação. Faria bem ao ministro um pouco menos de conversa e muito mais ação para colocar o país de volta nos trilhos do crescimento.
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