Novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou criação de Secretaria Especial de Combate à Pandemia.| Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
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Em meio ao “maior colapso sanitário e hospitalar da história”, na definição da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Brasil ganha seu quarto ministro da Saúde desde que a pandemia de coronavírus chegou ao país. O cardiologista Marcelo Queiroga foi escolhido por Jair Bolsonaro para substituir o general Eduardo Pazuello, fortemente criticado pela condução da pasta – até mesmo por integrantes do Centrão, que formam a base de apoio do governo no Congresso. O futuro ministro (pois a posse só ocorrerá daqui a alguns dias) já afirmou que seu trabalho será de “continuidade” e que a política de saúde não é sua, mas do presidente: “O ministro da Saúde executa a política do governo”. Se é assim, das duas uma: ou Pazuello não vinha executando bem essa política – o que não parece ser o caso, pelos elogios recentes de Bolsonaro ao general –, ou algo precisa mudar.

Bolsonaro tem convicções bastante arraigadas sobre a estratégia de combate à pandemia, e que vão muito além da justa preocupação com a atividade econômica e as consequências da paralisação dos negócios, como a quebradeira generalizada, o desemprego e o aumento na pobreza. Os antecessores de Pazuello – Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich – discordavam frontalmente do chefe em temas como a necessidade de medidas de prevenção e os protocolos de tratamento, e por isso não duraram na cadeira de ministro. Seria bastante improvável que alguém com esse mesmo perfil viesse a substituir Pazuello, e foi exatamente isso que eliminou as chances da também cardiologista Ludhmila Hajjar, que havia despontado entre os nomes cotados para assumir a Saúde.

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Um país enlutado pelas centenas de milhares de mortes e empobrecido pelo caos econômico espera que Marcelo Queiroga demonstre o bom senso e a capacidade de gestão que são condições para finalmente superar a Covid-19

Mas, com o país se aproximando da marca de 300 mil mortes por Covid-19 e a maioria dos brasileiros criticando a maneira como Bolsonaro tem administrado a crise do coronavírus, alguns indícios de mudança surgiram no Planalto. Antes um crítico das vacinas, o presidente agora se compromete com a aquisição ou produção de centenas de milhões de doses; no evento de sanção da lei que facilita a compra de vacinas por estados, municípios e iniciativa privada, chegou a usar máscara, outra medida de prevenção que sempre desprezou. Evidentemente há uma boa dose de cálculo eleitoral nisso: após a decisão do ministro Edson Fachin, do STF, que recolocou o ex-presidente Lula na campanha para 2022, o petista fez um discurso em que defendeu as vacinas e acenou para os eleitores mais ao centro, um grupo que Bolsonaro não pode se dar ao luxo de perder.

A julgar pelo discurso de Queiroga, quem continua dando as cartas na estratégia federal contra a Covid-19 é o presidente da República. Se a orientação for aquela do “velho” Bolsonaro – que aposta no confronto com governadores e prefeitos em vez de assumir uma postura de coordenação, que demonstra pouca empatia pelos doentes e mortos, que despreza medidas de prevenção e critica vacinas –, não há como prever uma carreira longa para Queiroga no ministério. A não ser, evidentemente, que ele se resigne a seguir o roteiro de Pazuello, esperando que, por algum milagre, fazer a mesma coisa repetidamente dê, no futuro, um resultado diferente do que vem sendo colhido até agora.

Ou, então, que finalmente Bolsonaro permita a seu novo ministro executar o que, com a sua experiência de médico, ele julgue ser necessário para conter a pandemia. Isso significa incentivar medidas e comportamentos de prevenção, sem excluir o olhar para a economia; trabalhar em conjunto com estados e municípios para fortalecer o sistema de saúde e evitar o colapso; e, claro, acelerar o processo de aquisição e aplicação de vacinas para que se imunize o quanto antes uma parcela da população suficiente para frear e, espera-se, interromper a propagação do coronavírus, o que trará consequências benéficas não só para a saúde dos brasileiros, mas também para a atividade econômica. Esta deve ser a prioridade máxima, pois países que colocaram todos os seus esforços na vacinação, como os Estados Unidos, Israel e o Reino Unido, já estão colhendo resultados promissores, especialmente .

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Em alguns dos poucos pronunciamentos feitos até agora neste período de transição, Queiroga pediu que a população use máscaras e defendeu o distanciamento social. Mas os desafios da pandemia exigirão muito mais que necessárias exortações à população. Um país enlutado pelas centenas de milhares de mortes e empobrecido pelo caos econômico espera que ele demonstre o bom senso e a capacidade de gestão que são condições para finalmente superar a Covid-19.