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Editorial

Maria Silvia e o BNDES

 | Tomaz Silva/Agência Brasil
(Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) foi fundado em 1952 como autarquia federal, concebido e criado sob a liderança do economista Roberto Campos, seu primeiro presidente, com o objetivo de prover financiamentos de longo prazo para investimentos em infraestrutura e projetos empresariais voltados à industrialização e ao desenvolvimento econômico. Em 1971, o BNDE tornou-se empresa pública, para ganhar flexibilidade na contratação de pessoal, mais liberdade nas operações de captação e aplicação de recursos e para reduzir a interferência política no órgão. Em 1982, passou a se chamar Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ampliou sua atuação para beneficiar projetos ligados à competitividade da economia e à inclusão social.

O BNDES se constituiu, ao longo do tempo, de aportes de capital pelo Tesouro Nacional, captações próprias e recursos públicos vindos do FGTS, FAT, e PIS/Pasep, o que lhe permite cobrar taxas de juros menores e compatíveis com os projetos que financia. Desde sua criação, a essência do banco era a de que as decisões de como financiar e quais projetos escolher deveriam ser pautadas por três princípios: interesse nacional voltado ao desenvolvimento, viabilidade econômico-financeira do projeto financiado e capacidade de pagamento do tomador dos empréstimos.

Maria Silvia sai, substituída por Paulo Rabello de Castro, mas suas diretrizes ficam

O banco chegou até os tempos atuais e vem cumprindo importante papel, não sem passar por solavancos e interferências que criaram problemas para a instituição e a fizeram desviar-se do foco. Nos governos do PT, as críticas mais comumente feitas ao BNDES eram de que sua direção teria se desviado dos princípios iniciais, para atender setores selecionados pelo governo e aprovar empréstimos a empresas amigas das autoridades, mesmo em projetos de duvidosa viabilidade. Não faltam notícias sobre o envolvimento do banco em operações ruinosas e/ou direcionados aos amigos do poder federal e aos apoiadores filiados aos partidos aliados do governo, sem falar de projetos em outros países cujos regimes eram ideologicamente afinados com o petismo.

Foi nessa conjuntura que, há pouco mais de um ano, a presidência do BNDES passou a ter como titular a economista Maria Silvia Bastos Marques, sob cuja presidência o banco deveria voltar a seguir rigorosas diretrizes técnicas em suas decisões de financiamento, abandonando as influências do poder central e dos políticos que gravitam em torno do Palácio do Planalto. Maria Silvia é profissional de renomada capacidade administrativa e reconhecida lisura moral, qualidades que provou nos cargos que ocupou, como os de assessora no Ministério da Economia (governo Collor), secretária da Fazenda do município do Rio de Janeiro e presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), logo após sua privatização. Maria Silvia vinha sendo alvo de contestações justamente por ter afastado o espectro político das decisões do BNDES, como mostram as críticas de Joesley Batista feitas nas conversas gravadas entre ele e o presidente Michel Temer.

No fim de maio, após um ano como presidente do BNDES, Maria Silvia pediu demissão, no momento em que a Polícia Federal investiga possíveis irregularidades no repasse de R$ 8 bilhões do banco para a JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, que estão no centro da maior crise vivida pelo governo Temer. Embora com apenas um ano à frente do BNDES, Maria Silvia deixa como legado a cultura que deveria ser a norma do órgão: interesse nacional, decisões rigorosamente técnicas e repúdio à interferência política nos financiamentos concedidos pelo banco, princípios esses que deviam – e devem – ser os pilares centrais da atuação do BNDES. Ela sai, substituída por Paulo Rabello de Castro, mas suas diretrizes ficam, e dificilmente serão mudadas.

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