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| Foto: Renan Olaz/CMRJ

Na noite de quarta-feira, dia 14, a vereadora carioca Marielle Franco (PSol) e de seu motorista, Anderson Gomes, foram covardemente assassinados. Os bandidos emparelharam um carro ao lado do veículo da vereadora e dispararam pelo menos nove vezes; quatro tiros acertaram Marielle na cabeça e outros três atingiram Anderson; uma assessora da vereadora foi ferida por estilhaços. Os bandidos fugiram sem levar nada. Um crime que teve todas as características de uma execução muito bem planejada, a julgar por dados levantados pela investigação, como o fato de os assassinos saberem onde Marielle estava sentada (no banco de trás, o que não era seu costume) apesar dos vidros escuros de seu veículo, indicando que ela teria sido seguida desde que saiu de um evento em outro bairro do Rio.

Mortes de políticos ou candidatos infelizmente não têm nada de extraordinário no Brasil. Nos rincões esquecidos do país, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, são uma realidade frequente que se soma à tragédia maior dos 60 mil homicídios anuais no Brasil. Mas, dentro dessa guerra civil particular, o assassinato de Marielle chama especialmente a atenção por ocorrer em um local que se tornou um exemplo acabado de caos na segurança pública. O Rio ainda é a vitrine do Brasil para o mundo, e por isso o crime teve repercussão internacional.

Mortes de políticos ou candidatos infelizmente não têm nada de extraordinário no Brasil

Marielle, nascida e criada no Complexo da Maré, conseguiu ser a quinta vereadora mais votada do Rio em sua primeira eleição. Socióloga, com mestrado em Administração, escreveu dissertação sobre as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Era uma crítica da intervenção federal decretada pelo presidente Michel Temer, mas suas denúncias mais contundentes não eram contra as Forças Armadas, e sim contra supostos abusos cometidos pela Polícia Militar fluminense. Dias antes de seu assassinato, ela tinha usado as mídias sociais para divulgar denúncias trazidas a ela por moradores do bairro de Acari. “O 41° Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando moradores de Acari (...) Hoje, a polícia andou pelas ruas ameaçando os moradores”, escreveu no Facebook. Horas antes do crime, ela ainda tuitou sobre “Mais um homicídio de um jovem que pode estar entrando para a conta da PM”, referindo-se a um crime ocorrido na favela do Jacarezinho. Isso alimentou as suspeitas de que policiais estejam por trás da execução da vereadora.

Está no rol daquelas obviedades cuja repetição é necessária lembrar que nenhuma posição política, e nem mesmo a possibilidade de as denúncias feitas por Marielle serem exageradas ou falsas, justifica seu assassinato. Quem se sentisse injustamente acusado por ela deveria buscar a Justiça. Mas a militância da vereadora, que se dedicou a denunciar os excessos da polícia, aponta para uma realidade: a anomia que tomou conta do Rio de Janeiro não é obra exclusiva da bandidagem e do tráfico.

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Os bons policiais do Rio de Janeiro estão de mãos atadas não apenas por causa de bandidos que exibem um poder de fogo admirável, muito maior que o das forças de segurança e suficiente para lhes garantir o domínio de várias áreas na cidade, mas também por causa de uma banda podre que enverga a farda e, quando não está colaborando com a bandidagem, compete com ela pelas mesmas áreas e comete crimes como o assassinato da juíza Patricia Acioli, em 2011. A corrupção está suficientemente impregnada na polícia fluminense a ponto de ela ser um dos grandes desafios do general Braga Netto, o interventor federal a cargo das operações de segurança no estado. A limpeza interna exige tanta energia quanto uma operação para livrar um morro das facções criminosas – e o Rio precisa de sucesso em ambas as missões.

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