Dono do maior orçamento da União, o Ministério da Educação vive momentos conturbados. Na semana passada, o ministro da pasta Ricardo Vélez Rodríguez foi sabatinado na Câmara dos Deputados, onde foi questionado sobre as constantes trocas de pessoal no segundo escalão de seu ministério, a influência do pensador Olavo de Carvalho em suas decisões, a falta de um plano detalhado para a educação brasileira na sua gestão, bem como as trapalhadas do slogan de campanha a ser lido antes da execução do Hino Nacional e da declaração infeliz sobre os brasileiros no exterior.
De fato, os constantes vaivéns da pasta e os erros tolos fragilizaram o trabalho de Velez no ministério. Se o ministro continuará ou não no cargo, os próximos dias dirão.
Pelo menos desde o governo Fernando Henrique, passando pelos governos do PT, a pasta sempre foi cara à esquerda. É simbólico que já no primeiro mandato de Lula, Paulo Freire tenha sido reconhecido como patrono da educação brasileira. Também nessa pasta temas polêmicos como o “kit-gay” e questões de gênero e de educação sexual eram discutidos e implementados. Sem levar em conta, ainda, a hegemonia conquistada pela esquerda no campo educacional, em que muitos autores do lado oposto do espectro político simplesmente não eram citados, ou eram desconhecidos pelos professores.
Quanto às ideias ninguém poderia dizer que o professor Ricardo Velez Rodriguez não estivesse alinhado com o presidente da República
Foi essa situação que Bolsonaro visava mudar com a indicação de alguém ideologicamente mais conservador. Quanto às ideias ninguém poderia dizer que o professor Ricardo Vélez Rodríguez não estivesse alinhado com o presidente da República. Vélez defende a descentralização da educação, dando mais autonomia aos estados e municípios, quer priorizar a educação básica, dando ênfase especial à alfabetização – tendo inclusive criado uma secretaria especial para cuidar do assunto –, quer evitar a evasão escolar com programas de ensino profissionalizantes nos anos finais do ensino fundamental e médio e, ainda, visa fortalecer os programas de inclusão escolar, sobretudo em relação ao ensino de Libras, tema estimado pela primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Mesmo levando em conta que os problemas da educação, que por sua própria natureza, são os mais lentos para resolver, a capacidade de execução das ideias do ministro não foi demonstrada.
Para que os objetivos principais do governo em relação à educação sejam postos em prática, é necessário que o ministério tenha maior estabilidade no seu corpo diretivo. A troca frequente de nomes atrapalha demais o funcionamento administrativo do MEC, o que leva ao temor de que programas já consolidados como o Fies, Prouni e Enem sejam prejudicados.
A pasta precisa não apenas de soluções teóricas para os problemas da educação brasileira, mas também de profissionalismo, metas mais claras e planos mais detalhados para o que se espera atingir ao final dos quatro anos. Ou seja, é preciso um perfil mais técnico, que conheça os meandros da administração pública e as diversas realidades da educação brasileira. Declarações de intenções não bastam.
É certo que há muitas visões de mundo em conflito no MEC. E é uma das pastas mais delicadas do governo, dada a importância que ela tem para a esquerda, as dificuldades de entendimento entre as várias correntes políticas que elegeram Bolsonaro, e também por ser a que dispõe do maior orçamento da União; mas o que mais está em jogo é o futuro das nossas crianças e jovens.
Uma educação ruim debilita a sociedade como um todo, pois enfraquece a capacidade da população de resolver problemas, de discutir com proveito assuntos importantes, de gerar conhecimento e cultura que possam desenvolver plenamente as capacidades humanas.
A população brasileira está cansada de ficar sempre nos últimos lugares nas avaliações internacionais de proficiência, e o país precisa acabar com a negligência com a educação.
Para resolver os problemas educacionais brasileiros, resta agora quem as coloque em prática, assumindo a pasta com responsabilidade e profissionalismo. Os brasileiros não podem esperar mais quatro anos para resolver este grave problema.