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Editorial

Ministério à altura da crise

Veio do advogado Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, um dos melhores amigos do vice-presidente Michel Temer, um conselho que pode evitar o desastre na montagem do novo governo que se avizinha. Ao recusar por mensagem de texto, na quinta-feira, o convite para ser ministro da Defesa, Mariz pediu ao peemedebista cautela na nomeação de investigados na Operação Lava Jato.

É claro que o conselho do advogado tem seus motivos pessoais – Temer o desconvidou de assumir o Ministério da Justiça por causa de críticas que fez à Lava Jato. Mesmo que Mariz se sinta incomodado por ter sido recusado, enquanto investigados na operação estão cotados para o primeiro escalão, o jurista está coberto de razão ao pedir cautela na montagem da equipe. Temer já sinalizou que não vê problemas em políticos como Romero Jucá, investigado na Lava Jato, assumirem ministério no novo governo que deve tomar posse na próxima semana. A prudência, contudo, não deveria se restringir ao veto a envolvidos na operação.

No momento estão dadas as condições para que Temer atue com grandeza

Há muito se tem notícia da romaria cotidiana que políticos de diversos partidos fazem ao Palácio do Jaburu para acertar com Temer as fatias do poder. Já não se fala mais em reduzir de 31 para 20 ministérios. Muitos interesses estão sendo acomodados, a fim de se conseguir sustentação no Congresso Nacional. O governo Temer nem começou, mas é triste constatar que as velhas práticas do “toma lá, dá cá” e da composição de interesses escusos prossigam em vigorosa atividade, especialmente neste momento de profunda crise econômica e política.

Muitos talvez considerem que isso seja inevitável. Por essa visão, o fisiologismo está tão arraigado que não haveria outra alternativa enquanto perdurar o modelo de presidencialismo de coalizão. O máximo que Temer poderia fazer seria contar com uns poucos ministros fortes para atuar em áreas essenciais – como as pastas da Fazenda, da Justiça, da Saúde do Planejamento – e lotear entre aliados os outros setores do novo governo. Por esse caminho, teria avanços pontuais, pouco expressivos, mas garantiria a governabilidade.

Não nos parece que esse raciocínio “realista” se sustente. Caso o peemedebista ceda demais às negociatas – e aceite a lógica do fisiologismo – dificilmente as reformas, parte delas impopulares, serão aprovadas. O presidente interino, então, ficará refém em toda a votação, tendo de ceder mais espaço no governo para os aliados e gradativamente distribuindo mais benesses. O apoio fisiológico requer, a cada nova rodada de negociação, contrapartidas crescentes que certamente vão inviabilizar as reformas de que tanto o país precisa.

Se o caminho dos realistas não é viável, há outra alternativa possível? Existe um único meio de superar o atraso que nos foi legado pelos governos do PT. O caminho passa por uma proposta efetiva de projeto nacional. Em grandes momentos de crise, e são inúmeros os exemplos nas histórias, até mesmo as almas mais deletérias são capazes de aderir a um grande propósito. Mas isso requer uma liderança capaz de congregar as forças políticas a um objetivo comum. Estaria Temer preparado para tal tarefa?

Esse caminho não é irrealista. Com todas as ressalvas que se possa fazer na votação do impeachment, se percebeu ali que boa parte dos deputados tem a disposição de embarcar em um projeto nacional. A votação não foi expressão de mera conveniência, mas de que o país precisa sair de imobilismo.

No momento estão dadas as condições para que o vice-presidente atue com grandeza. É possível e necessário assumir a posição de um estadista. O peemedebista tem o dever de fazer todo esforço necessário para que sua equipe esteja à altura da dura tarefa de combater a crise e reformar o Estado. A sociedade espera que o novo comando seja, em tudo, diferente do frágil e lamentável governo que o antecedeu.

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