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 | Foto: Elza Fiúza/ABr
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O eleitor que, até pouco tempo atrás, se queixava de só ter opções nos extremos do espectro político no pleito presidencial de 2018 começa ver outros nomes surgindo no horizonte. Em vez de uma eleição extremamente polarizada entre o candidato petista – que, se a lei for seguida, não será Lula – e o deputado Jair Bolsonaro (PSL), com alguns outros coadjuvantes fazendo companhia ao PT na extrema-esquerda, opções mais ao centro estão se lançando na corrida ao Planalto. As candidaturas só serão formalizadas durante as convenções partidárias, que, segundo o calendário eleitoral, ocorrerão de 20 de julho a 5 de agosto, mas as pré-candidaturas já permitem concluir que a urna eletrônica terá pelo menos um ou dois nomes considerados moderados.

Entre os principais partidos brasileiros e nomes consolidados na cena política, o Democratas lançou, em 8 de março, a pré-candidatura do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. E, mais recentemente, no dia 20, o PSDB oficializou a pré-candidatura do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. O senador paranaense Alvaro Dias concorrerá pelo Podemos, e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), ainda sonha com a candidatura.

A moderação, que não se confunde necessariamente com ausência de convicções ou indecisão, é necessária no Brasil atual

A própria lista dos candidatos já mostra o quão fluido pode ser esse conceito de “centro”; o PSDB, por exemplo, é historicamente ligado à social-democracia, mais de centro-esquerda, enquanto outros pré-candidatos podem ter uma agenda mais ligada ao liberalismo econômico, costumeiramente associado à direita. No entanto, pode-se dizer que esse grupo tem em comum o fato de representar uma alternativa moderada com plataformas capazes de engajar vários setores da sociedade dentro de um espectro mais amplo. E moderação, que não se confunde necessariamente com ausência de convicções ou indecisão, é uma característica mais que necessária no Brasil atual.

Essa emergência de pré-candidaturas centristas tem o mérito de tirar dos candidatos de discurso mais acirrado o monopólio do debate político e trazer uma maior pluralidade de ideias para a campanha. Algo extremamente saudável em um país onde, por muito tempo, qualquer discurso que não fosse de esquerda estava praticamente banido da vida política nacional. E temos de saudar o fato de praticamente todas essas candidaturas mais moderadas adotarem uma visão econômica pautada pela necessidade de reformas e de um Estado menos intervencionista, que dê mais liberdade a empreendedores e consumidores.

No entanto, por mais méritos que vejamos no surgimento de tantos nomes que podem ser uma alternativa moderada, há também um grande risco: a fragmentação excessiva tende a enfraquecer as chances do grupo como um todo. É verdade que nem todas as candidaturas centristas deverão vingar; algumas devem ser mero balão de ensaio para que o partido ou o pré-candidato consigam um lugar de destaque – talvez concorrendo como vice – em outra chapa mais consolidada. Mas, pelo menos por enquanto, nenhum dos nomes lançados assumiu um papel tão proeminente que seja capaz de aglutinar as preferências ao longo da campanha. Alckmin, que tem a máquina partidária mais azeitada, é até hoje o único candidato à Presidência que conseguiu a proeza de reduzir sua votação do primeiro para o segundo turno, quando perdeu para Lula em 2006, e isso poderá ser usado como argumento para que vários outros candidatos moderados permaneçam na corrida.

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Tudo isso faz da eleição de 2018 – pelo menos até o momento – uma disputa mais parecida com a de 1989 que com todos os pleitos que se seguiram, de 1994 a 2014, marcados pela disputa entre PT e PSDB, ainda que ocasionalmente houvesse algum terceiro candidato capaz de incomodar. Naquela primeira eleição direta para presidente desde o golpe militar de 1964, pouco mais de 20 candidatos se lançaram ao Planalto – desses, havia pelo menos um terço de candidaturas viáveis, seja pelo nome, seja pelo partido. O resultado foi uma fragmentação do eleitorado que permitiu a um candidato, o petista Lula, ir ao segundo turno com meros 17% dos votos válidos.

O desempenho dos pré-candidatos moderados nas pesquisas de opinião terá grande influência na dinâmica da oficialização das chapas; quem não decolar terá sobre si mais pressão para desistir e apoiar outros candidatos. Mas, se muitos centristas permanecerem na campanha sem que um deles desponte, o risco é o de eles dividirem os brasileiros mais moderados e facilitarem o caminho dos candidatos dos extremos, que já têm um eleitorado consolidado. Isso seria desperdiçar a oportunidade de eleger alguém que possa unir os brasileiros, em vez de fomentar divisão e polarização em um país que tem se tornado refém de ambas.

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