Pesquisa recém-divulgada mostra que, quando se fala em inovação, a aquisição de máquinas continua sendo considerada a atividade mais relevante

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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou, neste mês, a aguardada atualização da Pesquisa de Inovação (Pintec), o estudo mais completo e detalhado para entender os avanços da inovação no Brasil. Neste contexto, muito se tem debatido dois dados tidos como principais. Primeiramente, o recuo da taxa geral de inovação da indústria, que ficou em 35,6%, apresentando uma queda em relação a 2008, quando 38,1% das empresas haviam sido inovadoras, por meio do lançamento de produtos ou processos novos ou significativamente aprimorados.

O segundo dado muito citado é a principal barreira apontada pelas empresas para explanar a diminuição das suas atividades inovativas. Pela primeira vez nos levantamentos do IBGE, a falta de mão de obra qualificada aparece entre os dois principais obstáculos à inovação, com 72,5% das empresas industriais atribuindo importância alta ou média a esta dificuldade, apenas superada pelos custos elevados e burocracia (81,7%).

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Um outro conjunto de dados, porém, necessita ser destacado para que possamos claramente perceber que não apenas inovamos pouco, mas que também somos levados a confundir modernização com inovação. Se houve, por um lado, certo aumento dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), demonstrado pelo fato de que as indústrias despenderam 0,71% de sua receita líquida de vendas nestas atividades em 2011 (acima dos 0,62% registrados em 2008), a Pintec revela também a preocupante informação de que o primeiro dispêndio das empresas, quando se trata de inovação, consiste, na realidade, em comprar máquinas. Efetivamente, a pesquisa mostra que a aquisição de máquinas e equipamentos continua sendo a atividade considerada mais relevante para 75,9% das empresas, reforçando uma tendência historicamente conhecida.

Colateralmente, o mecanismo de fomento mais usado pelas empresas acaba sendo o financiamento para compra de máquinas e equipamentos (27,4%), em detrimento alarmante das subvenções econômicas para inovação (0,8%) e dos financiamentos para projetos de parceria com universidades e institutos de pesquisa (0,9%).

Inovação, porém, não é modernização. Inovar consiste em transformar conhecimentos novos em negócios diferentes, lucrativos e sustentáveis. Obviamente a compra e importação de máquinas e equipamentos mais sofisticados possui um impacto direto na produtividade, mas induz também de forma perversa a uma aceleração e reforço da comoditização das propostas de valor. Efetivamente, a modernização por importação de máquinas, quando não é acoplada à própria inovação, leva inevitavelmente a aumentar e baratear a capacidade de fazer mais do mesmo. No curto prazo, este aumento de produtividade em propostas comoditizadas pode gerar uma falsa impressão de ganhos competitivos, mas, no médio e longo prazo, infelizmente apenas reforçará a intensidade da dependência tecnológica do exterior.

O agravamento do déficit da balança comercial da indústria de transformação (que chegou, segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, a um recorde de US$ 50,6 bilhões em 2012) é, portanto, também fruto de políticas industriais que fomentam a modernização em detrimento da inovação. Efetivamente, em resposta à crise de 2008, a equalização da taxa de juros para aquisição de equipamentos foi bastante elevada, implicando, em determinados momentos, que os juros para compra de equipamentos fossem mais baixos que os de financiamentos para a inovação.

Inovar não é fazer de forma eficiente mais do mesmo. Inovar consiste em expandir a proposta de valor das empresas, por meio da transformação de conhecimentos novos em negócios lucrativos e sustentáveis. Tal conversão da pesquisa em riqueza é absolutamente fundamental para que a população possa plenamente usufruir dos benefícios da ciência gerada nas universidades, e aplicada nas indústrias.

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