Enfim, o governo parece que começou a reconhecer a gravidade da crise vivida pela agropecuária e promete para os próximos dias uma "MP do bem" para socorrer o setor, mas, ao que tudo indica, ainda de forma insuficiente. Vítimas por dois anos consecutivos do clima desfavorável, da queda das cotações internacionais e da desvalorização do dólar, os produtores rurais já acumularam perdas da ordem de US$ 20 bilhões desde o ano passado e estão ameaçados de perder outros US$ 10 bilhões ao longo dos próximos meses. Como afirmou o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, "não há política agrícola que resolva um problema tão grande."

CARREGANDO :)

De fato, uma política agrícola, por melhor que seja, não pode mesmo dar jeito, por exemplo, nos maus humores de São Pedro e nem determinar as cotações melhores na Bolsa de Chicago. Mas pior do que qualquer política agrícola é a completa ausência de uma, como vem se verificando nos últimos anos. Ao contrário do que ocorre nas nações que reconhecem o peso econômico e a importância social da agropecuária, no Brasil ela foi há muito relegada à própria sorte. Não se defende a volta do subsídio perdulário que já se praticou no passado, mas, sem dúvida, por suas características de alto risco, o setor não pode prescindir, em medida correta, da proteção do Estado.

Alguns poucos números podem dar a dimensão do quanto é necessário tratar a agropecuária com os olhos da Justiça. Ela é responsável direta por 37% de todos os empregos e por 40% das nossas exportações; além disso, contribui com praticamente 100% para garantir a segurança alimentar de uma população de 180 milhões de brasileiros. No entanto, como advertiu na última sexta-feira o próprio ministro, se o governo não tomar medidas de amparo ao setor, o Brasil arrisca-se a ter de importar alimentos dentro de dois anos.

Publicidade

Não se trata de uma visão alarmista e nem mesmo deve ser confundida com mais uma manifestação da legendária "choradeira" dos produtores rurais. Vive-se no campo uma situação real: o desequilíbrio cambial elevou os custos de produção e achatou os preços de venda; os créditos de custeio, investimento e comercialização, além de insuficientes, são concedidos a juros exorbitantes; não há nenhum mecanismo de proteção a preços mínimos. Como resultado desse conjunto de fatores, nunca o campo se tornou tão inadimplente quanto agora e tão incapaz de recuperar-se sem apoio governamental.

Há mais de um ano, os agricultores alertam o governo para a situação falimentar em que se encontram. Um "tratoraço" sobre Brasília tentou, sem sucesso, alertar o presidente Lula para a emergência. Às dívidas contraídas para a safra atual juntam-se as da safra passada, tornando-se impagáveis dada a ocorrência de novas quebras de produção e a continuidade do processo de distorção cambial. Com isso, o setor perde também a condição de manter sua capacidade produtiva, dando razão aos que profetizam a breve necessidade de o Brasil tornar-se importador de alimentos.

Até o momento, sabe-se que a "MP do bem" para a agricultura prevê medidas destinadas apenas a reduzir os custos de produção, com a eliminação de alguns impostos que pesam sobre máquinas e insumos – algo claramente insuficiente para atender a suas reais necessidades.