O cenário mundial está mudando, com os primeiros ajustes aplicados pelo governo dos Estados Unidos para "esfriar" a economia daquele país. Os novos alinhamentos já reduziram os recursos livres antes investidos em operações de especulação com petróleo, "commodities" e títulos de países emergentes. A mudança afetará o Brasil, embora em grau menor do que outros países, devido à melhoria das nossas contas externas e ao modesto crescimento brasileiro nos últimos anos.

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Em paralelo, o governo federal anuncia a disposição de flexibilizar o regime cambial, facilitando operações de conversão de moeda estrangeira gerada pelos exportadores. É uma resposta às pressões para o realinhamento do câmbio – visto como um dos fatores da desorganização de vários setores produtivos, inclusive o agronegócio paranaense. Somadas, essas medidas poderão recuperar a cotação relativa do dólar ante o real, suavizando perdas que se alastravam por áreas tão diversas quanto a indústria madeireira e de móveis, de couros e calçados, de produtos agrícolas, de automóveis etc.

O ajuste da economia americana decorre da mudança no Banco Central dos Estados Unidos, com a entrada de Ben Bernanke como sucessor do lendário Alan Greenspan. O novo dirigente teve que reforçar a política de elevação da taxa básica de juros, para atrair recursos necessários à cobertura do déficit fiscal do seu governo e refrear as perdas anuais de comércio de 800 bilhões de dólares. Esse "esfriamento" já atingiu a bolha especulativa do setor imobiliário e deve alcançar toda a economia, que ao crescer menos vai moderar o apetite por importações.

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O Brasil, que aproveitou o período de bonança dos últimos três anos para sanear sua exposição externa, deverá ser menos afetado pelas turbulências no horizonte, porém não deixará de ser atingido. A expectativa é que o choque externo não chegue de forma abrupta como crises anteriores na década de 1990. Porém a cada semana os números ficarão um pouco piores, afetando exportações e o desempenho da produção. O aspecto a ser considerado é que o país acorda para o pesadelo global sem ter se preparado.

Os últimos anos não foram aproveitados para a efetivação de reformas de profundidade, capazes de corrigir distorções que afetam nossa capacidade de competir. A carga tributária continua onerando a sociedade, os gastos públicos crescem a taxas insustentáveis e prossegue a deterioração da infra-estrutura. Segundo o deputado Delfim Netto – crítico dessa tolerância com a mediocridade – se tivéssemos adotado um programa de equilíbrio nas contas públicas (o déficit nominal zero), os juros baixariam e o câmbio se ajustaria de forma natural.

Enquanto desperdiçamos os anos exuberantes da economia mundial, Coréia do Sul, China e Índia entre outros países, aproveitaram para aumentar sua presença global; tornaram-se centros de produção geradores de emprego e renda e conquistaram uma crescente autonomia no competitivo cenário contemporâneo.