Se olhadas sob o ponto de vista da formação histórica do Paraná, três décadas podem ser consideradas um período muito curto. Séculos se passaram desde que nosso território começou a ser colonizado primeiro, ainda no alvorecer do século 16, quando os primeiros brancos fundaram e se fixaram em vilas para faiscar o escasso ouro dos rios do litoral; depois, o tropeirismo, o extrativismo da erva-mate e da madeira e, por fim, o cultivo de lavouras de subsistência e de café completaram a saga do povoamento do estado.
Foi ao longo dessa história, marcada pelo sangue de muitos desbravadores vindos das mais diversas regiões do país e do mundo, que o Paraná forjou sua riqueza econômica, suas tradições, sua cultura. E foi graças também a essa história de trabalho que cidades surgiram, cresceram, se desenvolveram, se tornaram metrópoles. A Emancipação, em 1853, exigiu a organização administrativa, a divisão do território em comarcas e municípios, com territórios definidos, meios de autossustentação garantidos, com suas respectivas administrações locais.
Não se pode afirmar que, um dia, o Paraná tenha tido a divisão político-administrativa ideal de seu território. Não se pode afirmar que os 270 municípios que possuía nos anos 1960 correspondiam às necessidades da população; nem que as mais de três centenas dos anos seguintes fossem o número justo.
Mas o fato é que houve um momento histórico em que as circunstâncias aconselharam que não mais se criassem municípios. Ainda assim, eles continuaram nascendo sob impulsos e conveniências eleitorais e cartoriais de alguns políticos, que, tendo o poder de fazer leis, não levaram em conta as limitações de caráter econômico, social ou técnico que caminhavam em sentido contrário.
Esse momento histórico ocorreu em 1975, quando a "geada negra" que dizimou os cafezais do estado esvaziou cidades inteiras, deslocou suas populações para os grandes centros, empurrou contingentes imensos para outras regiões do país e, sobretudo, empobreceu o interior paranaense. O estado, que então se aproximava dos 10 milhões de habitantes, viu no censo seguinte que a população estava reduzida para pouco mais de 7 milhões.
O café, altamente dependente de mão de obra, foi substituído pela soja, pelas pastagens e por outras culturas extensivas, mecanizadas e menos exigente do braço humano. O resultado é que a expansão demográfica do interior caiu de ritmo o que, somado à redução das taxas de natalidade e ao processo de industrialização e urbanização transferiu renda dos pequenos municípios para os centros urbanos maiores.
A transformação da realidade que se operou a partir da geada e que prosseguiu velozmente com a expansão do agronegócio e da industrialização era já bem previsível desde a confirmação dos primeiros sinais. Entretanto, mais e mais municípios continuaram sendo criados. Hoje eles são 399 grande parte dos quais sem condições de sobrevivência autônoma, sem infraestrutura mínima em todos os setores (educação, saúde, segurança, transportes...), totalmente dependentes de transferências orçamentárias e de favores da União e do governo estadual. São, em boa parte, o resultado da irresponsabilidade de alguns políticos ou, numa concessão, da falta de visão dos governantes que os criaram.
No último dia 13, este jornal retratou tal situação com fidelidade.