A França chega ao primeiro turno de sua eleição presidencial, neste domingo, sem ter a menor ideia de quem serão os candidatos que disputarão o segundo turno em maio: os quatro principais postulantes ao cargo estão separados por pouquíssimos pontos porcentuais nas pesquisas de opinião, tornando o resultado imprevisível. Uma ansiedade que se espalha pelo resto da Europa, dada a importância do resultado para o futuro do projeto europeu.
Não muito tempo atrás, a presença de Marine Le Pen, da Frente Nacional, no segundo turno era dada como certa. A candidata de extrema-direita, no entanto, já aparece em diversas pesquisas atrás de Emmanuel Macron, líder de um novo partido, o En Marche!, e autodenominado centrista que, na qualidade de ministro da Economia do atual presidente, François Hollande, propôs reformas com o objetivo de modernizar a economia e as leis trabalhistas francesas.
Para problemas reais, como a imigração e a centralização da União Europeia, Le Pen e Mélenchon oferecem respostas simplistas
Quase alcançando Le Pen nas pesquisas está o ex-primeiro-ministro François Fillon, o candidato da centro-direita que também apresenta, em seu programa de governo, medidas liberalizantes para a economia francesa, uma das mais burocráticas da Europa. No início do ano, Fillon parecia o adversário natural de Le Pen no segundo turno, mas um escândalo envolvendo acusações de que familiares tinham empregos fantasmas abalou sua candidatura. Por fim, o quarto candidato com chances é da extrema-esquerda: Jean-Luc Mélenchon também é um eurocético, assim como sua contraparte na extrema-direita, e defende políticas como a supertributação dos mais ricos. O Partido Socialista, atualmente no poder, está praticamente fora da disputa: Hollande não quis tentar a reeleição e o vencedor das primárias da legenda, Benoît Hamon, que se coloca à esquerda de Hollande, tem menos de 10% das intenções de voto.
A imigração é um dos temas centrais da disputa. Não se pode ignorar que o problema é real, embora a questão não seja nova para a França, uma antiga potência colonial que recebeu grandes fluxos migratórios de seus domínios, a ponto de vários ícones da cultura e do esporte, como Albert Camus, Just Fontaine e Patrick Vieira, não terem nascido em solo francês. Mas, ao contrário das décadas anteriores, boa parte dos imigrantes de agora não demonstra a menor intenção de se integrar a seu novo país, estabelecendo guetos e, quando não encontram oposição, fazendo vigorar neles não a legislação nacional francesa, mas a lei islâmica, ainda que de maneira informal. É esse fenômeno, que se alimenta da radicalização religiosa e por ela também é alimentado, que desafia o Estado francês. A solução multiculturalista da esquerda já se mostrou falha, mas nem por isso a resposta está no isolamento proposto pela Frente Nacional, apesar dos recentes atentados terroristas.
A resposta da Frente Nacional para a imigração é a mesma para a economia: depois da saída britânica da União Europeia, o Brexit, a vitória de Marine Le Pen poderia conduzir a um “Frexit” fatal para a UE, dado o peso da França no bloco. Mais uma vez, para os problemas reais – o excesso de burocracia e a centralização de decisões em Bruxelas – oferece-se as respostas mais simplistas. Em vez de uma correção de rumos no projeto europeu, propõe-se o seu abandono. Nisso Mélenchon – um crítico feroz de Angela Merkel que defende a renegociação de tratados europeus e a saída da França da Otan – se aproxima de Le Pen, ainda que não com a mesma intensidade.
A melhor solução para a França e para a Europa seria a rejeição do eleitorado aos candidatos extremistas, permitindo que no segundo turno os moderados Fillon e Macron possam debater os temas centrais sem que a discussão seja contaminada pela retórica xenófoba ou populista.
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