Depois de um longo período de discussões – que talvez tenha demorado até demais –, chegou-se ao consenso de que não será necessário paralisar Curitiba para a realização dos jogos da Copa do Mundo na cidade. Em audiência da Comissão da Copa da Câmara Municipal realizada no fim de março, os vereadores descartaram o apoio à instituição de feriados e sugeriam a opção pelo ponto facultativo, deixando a decisão final para o prefeito Gustavo Fruet, que aceitou a sugestão. O decreto oficializando a medida foi assinado pelo prefeito no dia 11.

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Com a opção pelo ponto facultativo, as repartições públicas municipais funcionarão das 8 às 12 horas nos dias 16, 20, 23 e 26 de junho. Comerciantes, prestadores de serviços e empresas privadas em geral poderão escolher se aderem ao funcionamento em meio expediente ou se trabalharão em horário normal. Na esfera federal, em que a decretação de feriados nacionais nos dias de partidas do Brasil era dada como certa, o governo também recuou e optou pelo ponto facultativo. Nos dias de jogos da seleção brasileira, os servidores federais deverão ser liberados do trabalho às 12h30 – nos dias de jogos de outras seleções, o expediente será normal.

O principal motivo alegado para aprovar os feriados era garantir a mobilidade urbana. Temia-se que o trânsito – já complicado na capital – se transformasse em caos por causa dos jogos. O argumento era o de que, com os feriados e a consequente redução do número de pessoas que se deslocariam para as atividades do dia a dia, o trânsito dos cerca de 40 mil torcedores que devem assistir a cada partida da Copa em Curitiba ficaria facilitado. Mas o poder público entendeu que apenas o ponto facultativo, aliado ao calendário diferenciado adotado pelas instituições de ensino e que já prevê paralisação nos dias dos jogos, vai ser suficiente para garantir o deslocamento do público. O transporte público deve ser reforçado para facilitar o acesso dos torcedores aos estádios.

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A decisão de Fruet de não decretar os feriados é elogiável. Como já havíamos ressaltado neste mesmo espaço, não fazia sentido fechar o comércio local justamente nos dias de jogos. Desde que a discussão sobre os feriados começou, entidades ligadas ao setor produtivo vinham se manifestado, listando os prejuízos que poderiam advir de uma decisão favorável à paralisação. O setor de comércio e serviços investiu e se preparou para receber os turistas-torcedores que devem vir à cidade acompanhar os jogos e, caso os feriados fossem decretados, os empresários fatalmente teria prejuízos. Poderiam até abrir seus estabelecimentos, mas arcariam com os pesados custos trabalhistas, tornando inviável a atividade. E os turistas seriam prejudicados por encontrar uma cidade esvaziada, com poucas opções de comércio e prestadores de serviços.

Ao ouvir o setor produtivo e buscar alternativas para que a cidade possa manter suas atividades durante os dias de jogos, o poder público municipal mostra que é possível aliar a realização de grandes eventos ao respeito e à valorização do trabalho. Afinal, além da questão econômica, os feriados poderiam passar uma imagem equivocada de que Curitiba não seria capaz de receber os jogos da Copa do Mundo sem ter de parar. É importante valorizar o esporte e a diversão, mas seria irresponsabilidade fazer isso colocando em segundo plano as demais atividades da cidade.

O país já sofre com a má fama de ser pouco organizado e de não ser capaz de cumprir prazos e metas – imagem essa reforçada pelos constantes atrasos na construção de estádios e obras de mobilidade urbana. Decretar feriados para quatro jogos da Copa em uma cidade como Curitiba, considerada como modelo de organização e gestão urbana, seria uma prova do despreparo brasileiro para receber grandes eventos.

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