O Produto Interno Bruto (PIB) é dito “produto” porque inclui os bens e serviços de consumo e os bens de capital produzidos pelo país; “interno” porque se refere à produção feita dentro do território nacional, e “bruto” porque informa o total da produção sem descontar o desgaste e a redução do capital físico usado no sistema produtivo durante o período analisado. O PIB é expresso em valores monetários aos preços correntes do período em análise e deriva de um produto físico feito por todos os setores econômicos, expresso em quantidades. Para a comparação com outros países, os valores em reais são transformados na moeda padrão internacional, o dólar, pelo critério da paridade de poder de compra, e não pelo preço corrente do dólar no mercado diário de compra e venda dessa moeda.
Como é impossível somar coisas diferentes, pois não há como obter resultado em uma unidade de mensuração única (por exemplo, não se somam quilos com litros, metros e horas de consultas médicas, cortes de cabelos etc.), a medida lógica de produto total anual de um país é soma dos valores monetários da produção de todos os setores segundo os preços correntes do ano. Para comparar, na moeda interna, o PIB de um ano com o PIB do anterior e saber se houve crescimento, é necessário deflacionar o valor monetário do PIB segundo o chamado “deflator implícito”, que é a inflação média da elevação de preços de todos os itens componentes do PIB. Ou seja, a comparação do PIB de dois anos só faz sentido, para fins de identificar o crescimento, se os preços reais dos bens e serviços forem os mesmos nos dois anos comparados.
O crescimento econômico e o aumento do nível de emprego no médio prazo exigem a melhoria da taxa nacional de investimento, que atingiu 19,2% do PIB em 2021, mas deveria estar em 25% para sustentar crescimento médio na faixa de 5% ao ano
Essa introdução é necessária para concluir que o desempenho econômico do país em termos de crescimento real do PIB e consequente aumento do emprego e renda depende essencialmente do PIB real, ou seja, depende do PIB em quantidades físicas. No caso específico do nível de emprego, é importante entender que o número de trabalhadores em determinada atividade é o necessário para a produção das quantidades produzidas. Em outras palavras, em uma padaria que produza 1 milhão de pães por ano, o número de padeiros empregados é o necessário para produzir 1 milhão de pães, mesmo que de um ano para outro o preço do pão suba. O mero aumento do faturamento da padaria não gera aumento do nível de emprego se for mantida a quantidade de pães produzidos.
As estatísticas oficiais mostram o PIB aos preços correntes de cada ano, porém, a identificação da taxa de variação (crescimento ou decrescimento) do PIB exige a já citada necessidade de se aplicar o deflator implícito sobre o PIB nominal para se obter o PIB real e concluir se houve crescimento ou queda do produto físico de um ano para outro. No caso da comparação internacional, o problema persiste e traz um elemento novo: a comparação sobre o desempenho de um país com outro somente faz sentido se for aplicado um deflator implícito a fim de que o dólar usado nas estatísticas reflita o mesmo poder de compra dos dois países comparados, o que implica considerar a diferença entre a inflação dos dois países e também a variação na taxa de câmbio. É por essas razões e outras que a melhor forma de saber se um país de fato cresceu deve incluir a verificação do PIB a preços reais (descontada a inflação), o número total de horas que o país trabalhou para fazer o PIB e o nível de emprego.
A inflação e o desemprego são as duas principais variáveis na definição do padrão médio de bem-estar social, no tamanho da pobreza e no maior desafio socioeconômico. Sobre esse ponto, vale mencionar adicionalmente que o mundo vive um momento de alto desenvolvimento tecnológico em que a inteligência artificial, a nanotecnologia e a evolução da robótica fazem a produção nacional aumentar sem o correspondente aumento no número de pessoas empregadas. A capacidade mundial de produzir mais com menos gente leva a dois outros desafios: fazer o PIB crescer a taxas elevadas – sobretudo no setor de serviços, que é mais intensivo de mão de obra – e requalificar os trabalhadores para assumirem tarefas e funções surgidas com as inovações.
A despeito de o PIB brasileiro ter crescido, nos últimos meses, mais que a média das nações comparáveis com o Brasil, o crescimento nos próximos trimestres é possível com a recuperação da capacidade instalada que estava ociosa, mas o crescimento do PIB e o aumento do nível de emprego no médio prazo (por volta de três anos) exigem a melhoria de uma variável crucial: a taxa nacional de investimento, que atingiu 19,2% do PIB em 2021 e ultimamente se desacelerou um pouco. Essa variável tem impacto elevado no produto nacional, principalmente porque a taxa ideal para o país ter infraestrutura capaz de sustentar crescimento médio na faixa de 5% ao ano é de investimento na faixa de 25% do PIB. Ou seja, um quarto do PIB anual teria de ser composto por bens de capital físico, sem o que é difícil cumprir o objetivo de crescer a taxas elevadas capazes de permitir redução substancial no número de pessoas desempregadas.
A insistência em divulgar e debater esses temas é necessária como meio de despertar a classe política e as autoridades governamentais para as questões relevantes que condicionam o crescimento econômico, a redução do desemprego, a redução da pobreza e o desenvolvimento social. O Brasil tem pressa.
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