O sistema produtivo de qualquer país necessita de linhas de crédito para financiar as compras de matérias-primas, os custos do processo de produção, os estoques e as vendas. No caso das importações e das exportações, o país requer linhas de financiamento na moeda estrangeira, sem as quais o comércio internacional literalmente não funciona. Ou seja, o sistema de crédito é um combustível indispensável para irrigar o sistema econômico e manter a fluidez do processo produtivo. A suspensão dos empréstimos, de forma abrupta, em razão da crise global, tem de ser resolvida imediatamente, sob pena de provocar um colapso no fluxo de comércio.

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Entendida essa questão, cabe às autoridades monetárias intervir rapidamente e com eficiência para desentupir os canais de financiamento da produção e do comércio, para dar garantias ao andamento normal da economia. Os bancos, para que possam cumprir seu papel de instância financiadora, dependem do fluxo regular de depósitos do público e da confiança da sociedade na saúde do sistema. O pior dos efeitos de uma crise é o abalo na confiança da população em relação aos bancos e, nesse sentido, há de se louvar a atitude de alguns governos europeus que prontamente anunciaram garantias dos depósitos bancários.

A garantia dos depósitos é medida sábia, pois, ao dar segurança à população, ela evita a corrida dos depositantes aos bancos e, com isso, a própria garantia não precisa ser exercida. Uma vez restabelecida a confiança é preciso normalizar rapidamente o fluxo de empréstimos ao setor produtivo, como condição para a normalidade da economia e para minimizar os efeitos de uma retração no consumo, na produção e no emprego. Restabelecer o fornecimento de crédito significa garantir o volume necessário de moeda circulante e manter irrigados os canais de financiamento.

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Esse é o apelo que a sociedade deve fazer às autoridades governamentais e ao Banco Central, para garantir que a economia brasileira, que é vítima de uma crise gerada no exterior, venha a sofrer o mínimo possível com os efeitos do pânico mundial. Felizmente, até agora as autoridades internas têm reagido com razoável eficiência. O acordo entre o Banco Central do Brasil e o Federal Reserve, que é o Banco Central americano, para troca de reais por dólares, no total de US$ 30 bilhões, é uma das garantias de que não faltarão dólares para o comércio exterior. Entretanto, há dois aspectos ainda preocupantes no cenário nacional: a pesada carga tributária incidente sobre bens de consumo, em especial a carga de tributos indiretos, que castiga igualmente pobres e ricos, os juros altos. Uma pesquisa divulgada na quinta-feira passada indica que as taxas do cheque especial passaram da média de 8,96% para 9,24% ao mês, o maior patamar desde julho de 2003. Essa alta só agrava os problemas da economia. O melhor meio de antepor algum remédio ao pessimismo derivado da crise, para que se obtenha um bom nível de vendas, é a redução dos juros nos empréstimos ao consumidor. Quanto às melhorias mais significativas do sistema tributário, se o Brasil não as fizer no próximo ano, dificilmente fará nos dois anos seguintes, quando o país estará vivendo e respirando a sucessão presidencial. Em época de eleições, as reformas têm poucas chances de sair do papel.