A presidente Dilma Rousseff e seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, notabilizam-se pelo otimismo com que veem os rumos da economia brasileira. Embora os fatos reais contrariem quase tudo o que dizem, à moda do Dr. Pangloss, personagem que Voltaire imortalizou em Cândido uma das obras-primas do enciclopedista francês como símbolo do otimismo, eles se mantêm firmes na opinião de que tudo está bem e que dias ainda melhores virão. Pessimistas e equivocados são sempre os analistas das mais respeitáveis instituições quando ousam afirmar o que o governo e a equipe econômica não querem ouvir.
Antes e depois do episódio envolvendo o banco Santander, que comentamos neste mesmo espaço na última quinta-feira, outras instituições fizeram diagnósticos pouco alentadores a respeito do estado da economia brasileira. Agora é o Fundo Monetário Internacional (FMI) que, em análise da conjuntura mundial, põe o Brasil entre as nações cuja política econômica não favorece o crescimento. Ao contrário, salvo poucas exceções entre os desenvolvidos e os emergentes, nosso país tende a apresentar um dos menores índices de crescimento do PIB em 2014. Na última revisão de suas previsões, o FMI baixou sua expectativa para o Brasil: de 1,8% para 1,3%. No dia 29 de julho, a instituição classificou o Brasil como uma das economias emergentes mais vulneráveis a uma piora do quadro internacional. Em comum com África do Sul, Argentina, Índia, Indonésia, Rússia e Turquia, o país apresenta "inflação mais alta, rombo nas contas internas e externas e outros desequilíbrios-chave", segundo o FMI. A reação de Guido Mantega foi simplesmente a de desqualificar o relatório, afirmando que uma instituição respeitável jamais diria uma coisa dessas do Brasil.
Mas nada disseram tais instituições além do que a generalizada percepção do brasileiro comum já intui. O carrinho de compras no supermercado é o termômetro que lhe está mais acessível e ele mostra que os preços estão subindo simples dado microeconômico que se confirma quando vêm à tona sofisticados dados macroeconômicos. Apenas para citar um exemplo, eles nos dão conta, oficialmente, de que a inflação está continuamente acima do centro da meta ou até ultrapassando seu teto. E isso apesar das traquitanas criativas que seguram preços controlados (gasolina, por exemplo) para dar a aparência de uma normalidade que já não existe.
Mas, além de recorrerem à visão panglossiana, Dilma e Mantega, secundados por Lula, o mentor de ambos, põem em cena outro clássico: Sigmund Freud, pois aparentam conhecer a mente das massas. Segundo eles, o pessimismo em relação à economia é contagiante. Se muitos afirmam que as coisas não vão bem, a tendência é de que os investimentos decaiam, as bolsas amarguem prejuízo, a balança comercial patine, as contas públicas se desorganizem. Mas certamente não é uma suposta "onda de pessimismo" a responsável pelo pior déficit primário das contas do governo central (governo federal, Banco Central e Previdência Social) para um mês de junho o rombo, divulgado semana passada, foi de R$ 1,95 bilhão.
Ora, em vez da psicologia, não seria melhor recorrer à aritimética básica, que nos ensina que gastar mais do que se ganha só pode resultar numa conta negativa? E que, gastando-se mal, isto é, em quase nada que possa reverter o prejuízo presente e eventual em ganhos futuros, a tendência inevitável é de se acentuar a estagnação do crescimento que, somada à inflação alta, recebe dos economistas o nome de estagflação? Seria tudo isso apenas fruto da imaginação dos pessimistas ou é algo que pode ser comprovado à luz dos fatos reais?
Quebrar os termômetros não faz baixar a febre. Protestar contra o Santander, o FMI, as agências internacionais e nacionais ou os adversários políticos não é, decididamente, a melhor forma de que o governo poderia dispor para chegar ao âmago das causas que provocam a deterioração da economia nacional para dar-lhes efetivo combate.
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