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Editorial

Negociação bloqueada – mais uma vez

 | Arminius/Wikimedia Commons
(Foto: Arminius/Wikimedia Commons)

Uma nova rodada de negociações entre o Mercosul e a União Europeia para a conclusão de um acordo comercial entre os dois blocos naufragou na última sexta-feira, dia 16. De acordo com o jornal O Estado de S.Paulo, os negociadores voltarão a se encontrar nos próximos dias; se houver progresso, os chanceleres dos países-membros dos blocos poderão se encontrar na Bélgica para assinar o documento há muito tempo aguardado, mas que até o momento só gerou expectativas frustradas em duas décadas de conversa.

Os negociadores sul-americanos classificaram de “milimétricos” os avanços ocorridos após cinco dias de negociações, e ressaltaram que os europeus não recuaram em absolutamente nada nos assuntos referentes à agricultura. São vários os países europeus altamente protecionistas neste ramo, e eles têm pressionado os demais membros da UE para que não abram o mercado europeu aos produtos oriundos do Cone Sul, como etanol, açúcar e carnes. Ainda de acordo com a reportagem, os europeus que se opõem à abertura comercial tem usado todo tipo possível de argumento para criticar a negociação com o Mercosul: depois da Operação Carne Fraca e do assassinato da vereadora Marielle Franco, a própria eleição de Jair Bolsonaro para a Presidência da República tem sido usada como motivo para deixar a mesa de negociações.

O momento é delicado para o comércio exterior em todo o planeta

Por muito tempo, o maior entrave às negociações entre Mercosul e União Europeia estava do lado sul-americano. Governos de esquerda abusaram do protecionismo e resistiram à abertura dos mercados locais – caso mais emblemático foi o da Argentina, que sob Cristina Kirchner não pensou duas vezes antes de prejudicar até mesmo os parceiros do Mercosul. Com a vitória de Mauricio Macri e a cassação de Dilma Rousseff, substituída por Michel Temer, os dois principais membros do bloco do Cone Sul mudaram radicalmente de orientação e passaram a buscar mais ativamente o acordo com a EU, que agora parece mais disposta a bloquear as negociações graças à postura de alguns de seus membros. 

O protecionismo que está por trás da relutância em fechar o acordo entre Mercosul e UE não é novo. As potências agrícolas europeias sempre se mostraram fechadas a qualquer tentativa de abrir seus mercados, e os países sul-americanos, apesar do fim dos governos de esquerda, continuam mantendo práticas comerciais bastante questionáveis – basta lembrar que o Senado brasileiro acabou de aprovar o Rota 2030, mais um programa de benefícios à indústria automobilística e sucessor do Inovar-Auto, condenado na Organização Mundial de Comércio (OMC) em 2017, ao lado de várias outras medidas, em processo movido pela União Europeia e pelo Japão. Ainda que os novos programas não sejam ilegais, eles sem dúvida oferecem vantagens ao produtor nacional em detrimento dos cofres públicos, graças às isenções fiscais, e do poder de escolha do consumidor.

O momento é delicado para o comércio exterior em todo o planeta. Estados Unidos e China estão cada vez mais envolvidos em uma guerra comercial com elevação de tarifas de ambos os lados, enquanto a OMC perde espaço como o fórum por excelência para a resolução de controvérsias. Tudo isso apesar de a história comprovar com fartura de evidências que a abertura ao comércio é fonte de riqueza para as nações que nele se engajam. Relatórios recentes mostram o ganho que o Brasil poderia ter em termos de renda e emprego se deixasse de ser uma nação tão fechada comercialmente; apesar das adversidades e do clima desfavorável à maior integração entre as nações por meio do comércio, o Brasil só tem a ganhar se perseguir essa inserção.

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