“É golpe!” Meses depois do desfecho do processo de impeachment de Dilma Rousseff, os líderes petistas continuam classificando como golpe de Estado um processo realizado perfeitamente dentro da lei e conduzido de acordo com o rito prescrito pelo Supremo Tribunal Federal, e motivado por um crime de responsabilidade amplamente provado e sobre o qual não restam dúvidas. Mesmo assim, o petismo e seus militantes insistem na narrativa e ainda hoje reservam ao atual presidente, Michel Temer, termos como “golpista”, “ilegítimo” e “usurpador”.
Ora, com golpistas sórdidos como os que tramaram o impeachment de Dilma Rousseff não se negocia, certo? A eles o PT deveria dedicar a mais firme rejeição, pois o impeachment não foi nada mais que a manifestação do ódio das elites contra uma presidente que, se “pedalou”, foi para ajudar os pobres, não é mesmo? Curiosamente, já em 2016 a prática petista contrariava o discurso. Nas eleições de outubro do ano passado, o PT se coligou com “golpistas” em quase 2 mil dos 5,5 mil municípios brasileiros. O partido de Temer, o PMDB, foi parceiro dos petistas em quase 1,3 mil coligações para prefeito, mas ainda é possível justificar as decisões alegando que a legenda, apesar de ser a beneficiária maior do impeachment, nunca foi um bloco monolítico e abriga muitos defensores de Lula e Dilma; basta lembrar que o PMDB foi o responsável pelo absurdo fatiamento que cassou o mandato de Dilma, mas manteve seus direitos políticos. Mas o que dizer do fato de o PT ter se coligado com o PSDB e até mesmo com o Democratas em pouco mais de 700 municípios?
Algumas secretarias na Mesa Diretora e a presidência de comissões valem mais que a coerência
Agora, com a proximidade das eleições para as presidências do Senado e da Câmara dos Deputados, em fevereiro, o PT volta a desmoralizar seu próprio discurso e se aproximar dos “golpistas”. No Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) assumiu o favoritismo para suceder Renan Calheiros e, se há senadores petistas que defendem uma composição com o PMDB, outros rejeitam a hipótese de apoiar alguém que votou pela cassação de Dilma em agosto. Os petistas que defendem a aliança argumentam que Oliveira é próximo do ex-presidente Lula e ajudou Dilma ao se abster na votação sobre a manutenção de seus direitos políticos.
O mesmo não se pode dizer de Rodrigo Maia (DEM-RJ), o deputado que pretende se manter na presidência da Câmara. Seu partido sempre foi oposição aos governos petistas e esteve na linha de frente do impeachment. Mesmo assim, o PT negocia apoio a Maia – com autorização de ninguém mais, ninguém menos que o próprio Lula. Como se não bastasse, os petistas ainda consideram a possibilidade de apoiar um dos candidatos do “Centrão”, Jovair Arantes (PTB-GO), o relator do impeachment de Dilma na Câmara. O lançamento da candidatura de Arantes, na semana passada, foi prestigiado pelo líder do PT na casa, Carlos Zarattini. Isso tudo apesar de haver uma candidatura de esquerda, a do pedetista André Figueiredo.
A avaliação do partido é a de que o PT não pode ficar de fora da divisão de cargos feita entre os partidos que integram a chapa vencedora. Em 2015, o PT lançou Arlindo Chinaglia para enfrentar Eduardo Cunha na Câmara, perdeu e ficou de mãos abanando. Ou seja, algumas secretarias na Mesa Diretora e a presidência de comissões valem mais que a coerência. É o tipo de atitude que políticos hipócritas adotam sem o menor problema, e eles não terão vergonha nenhuma de voltar a repetir as mesmas palavras de ordem no futuro. Difícil vai ser explicar isso para a militância que confia no que seus líderes dizem e vai às ruas chamar Temer de “golpista” enquanto, em Brasília, as “vítimas” se dispõem a abraçar os “algozes” com a bênção da “alma mais honesta do país”.
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