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 | Leonardo Prado/Câmara dos Deputados
| Foto: Leonardo Prado/Câmara dos Deputados

“É golpe!” Meses depois do desfecho do processo de impeachment de Dilma Rousseff, os líderes petistas continuam classificando como golpe de Estado um processo realizado perfeitamente dentro da lei e conduzido de acordo com o rito prescrito pelo Supremo Tribunal Federal, e motivado por um crime de responsabilidade amplamente provado e sobre o qual não restam dúvidas. Mesmo assim, o petismo e seus militantes insistem na narrativa e ainda hoje reservam ao atual presidente, Michel Temer, termos como “golpista”, “ilegítimo” e “usurpador”.

Ora, com golpistas sórdidos como os que tramaram o impeachment de Dilma Rousseff não se negocia, certo? A eles o PT deveria dedicar a mais firme rejeição, pois o impeachment não foi nada mais que a manifestação do ódio das elites contra uma presidente que, se “pedalou”, foi para ajudar os pobres, não é mesmo? Curiosamente, já em 2016 a prática petista contrariava o discurso. Nas eleições de outubro do ano passado, o PT se coligou com “golpistas” em quase 2 mil dos 5,5 mil municípios brasileiros. O partido de Temer, o PMDB, foi parceiro dos petistas em quase 1,3 mil coligações para prefeito, mas ainda é possível justificar as decisões alegando que a legenda, apesar de ser a beneficiária maior do impeachment, nunca foi um bloco monolítico e abriga muitos defensores de Lula e Dilma; basta lembrar que o PMDB foi o responsável pelo absurdo fatiamento que cassou o mandato de Dilma, mas manteve seus direitos políticos. Mas o que dizer do fato de o PT ter se coligado com o PSDB e até mesmo com o Democratas em pouco mais de 700 municípios?

Algumas secretarias na Mesa Diretora e a presidência de comissões valem mais que a coerência

Agora, com a proximidade das eleições para as presidências do Senado e da Câmara dos Deputados, em fevereiro, o PT volta a desmoralizar seu próprio discurso e se aproximar dos “golpistas”. No Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) assumiu o favoritismo para suceder Renan Calheiros e, se há senadores petistas que defendem uma composição com o PMDB, outros rejeitam a hipótese de apoiar alguém que votou pela cassação de Dilma em agosto. Os petistas que defendem a aliança argumentam que Oliveira é próximo do ex-presidente Lula e ajudou Dilma ao se abster na votação sobre a manutenção de seus direitos políticos.

O mesmo não se pode dizer de Rodrigo Maia (DEM-RJ), o deputado que pretende se manter na presidência da Câmara. Seu partido sempre foi oposição aos governos petistas e esteve na linha de frente do impeachment. Mesmo assim, o PT negocia apoio a Maia – com autorização de ninguém mais, ninguém menos que o próprio Lula. Como se não bastasse, os petistas ainda consideram a possibilidade de apoiar um dos candidatos do “Centrão”, Jovair Arantes (PTB-GO), o relator do impeachment de Dilma na Câmara. O lançamento da candidatura de Arantes, na semana passada, foi prestigiado pelo líder do PT na casa, Carlos Zarattini. Isso tudo apesar de haver uma candidatura de esquerda, a do pedetista André Figueiredo.

A avaliação do partido é a de que o PT não pode ficar de fora da divisão de cargos feita entre os partidos que integram a chapa vencedora. Em 2015, o PT lançou Arlindo Chinaglia para enfrentar Eduardo Cunha na Câmara, perdeu e ficou de mãos abanando. Ou seja, algumas secretarias na Mesa Diretora e a presidência de comissões valem mais que a coerência. É o tipo de atitude que políticos hipócritas adotam sem o menor problema, e eles não terão vergonha nenhuma de voltar a repetir as mesmas palavras de ordem no futuro. Difícil vai ser explicar isso para a militância que confia no que seus líderes dizem e vai às ruas chamar Temer de “golpista” enquanto, em Brasília, as “vítimas” se dispõem a abraçar os “algozes” com a bênção da “alma mais honesta do país”.

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