Um dos maiores temores dos cidadãos que acompanharam e participaram das manifestações de rua em todo o Brasil se tornou realidade na quinta e na sexta-feiras: cenas de violência e vandalismo se tornaram mais comuns e graves, especialmente na noite de sexta em Curitiba, quando houve confronto entre manifestantes e torcidas uniformizadas do Atlético Paranaense nas proximidades da Arena da Baixada, e depredação generalizada no Centro Cívico, com grandes danos ao patrimônio público (semáforos e estações-tubo foram destruídos; os prédios da Prefeitura e do Fórum Cível foram atacados) e a propriedades particulares, com saques em lojas e bancos.

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Mortes ocorreram em Belém (PA) e no interior de São Paulo; Brasília e Rio de Janeiro também viveram cenas de quebra-quebra e saques já na quinta-feira – na capital federal, o vandalismo atingiu o patrimônio histórico, especialmente o Itamaraty e a Catedral; no caso carioca, a segunda-feira já tinha sido marcada por vandalismo na Assembleia Legislativa e no seu entorno. Cenas de ônibus e carros queimados se sucederam em diversas cidades. A situação precisou chegar a esse ponto para que a presidente Dilma Rousseff viesse a público. Afirmando que a violência "envergonha o Brasil", finalmente Dilma acordou, reconheceu que o setor público precisa melhorar e prometeu não transigir diante da baderna.

Está cada vez mais claro que, ainda que os vândalos continuem a ser a minoria, não há quem possa controlá-los: nem a maioria pacífica, cujos gritos de "sem violência" se mostram inócuos, nem a polícia, que, depois da repercussão negativa dos episódios do dia 13 em São Paulo, passou a ser vista como "culpada até prova em contrário" e adotou uma postura menos enérgica. Por isso, chegou a hora de as pessoas genuinamente preocupadas com um Brasil melhor repensarem a conveniência de continuar participando das manifestações.

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Uma característica dos vândalos é se aproveitar justamente das movimentações de massa para promover sua barbárie; se estivessem sozinhas, ou em grupos isolados, essas pessoas raramente agiriam dessa forma, até porque a ação policial seria facilitada. Diluídos em um grupo grande, com as atenções voltadas à manifestação como um todo, os vândalos se sentem livres para depredar. Assim, infelizmente os manifestantes bem intencionados estão, sem querer, colaborando para criar o clima no qual os baderneiros se sentem mais à vontade.

Mesmo nos casos em que não há vandalismo, grupos de manifestantes vêm fazendo escolhas cada vez mais daninhas ao cidadão. Os bloqueios de rodovias, por exemplo, se tornaram frequentes; sem falar da ocupação quase diária de artérias essenciais de grandes cidades, como a Avenida Paulista, em São Paulo, em uma região repleta de hospitais aos quais o acesso fica prejudicado, o que pode fazer a diferença entre a vida e a morte em casos de emergência. Quando tais bloqueios deixam de ser esporádicos para se tornarem rotineiros, perde-se o sentido original da manifestação, o de chamar a atenção para determinadas causas; só o que se consegue é a antipatia da população prejudicada.

As manifestações de rua ofereceram uma oportunidade ímpar para o brasileiro manifestar sem restrições sua indignação e suas reivindicações por um Brasil mais justo. Em várias cidades, especialmente nos municípios menores, elas ainda mantêm um caráter totalmente pacífico. Esta Gazeta, ao longo dos últimos dias, deixou claro que as passeatas são parte integrante da participação política do cidadão e saudou o fato de o brasileiro parecer ter abandonado certa apatia que o caracteriza quando se trata dos destinos do país. Mas, quando os protestos passam a ser marcados pelo vandalismo generalizado, ou quando se inflige à população um transtorno exagerado, é preciso parar para refletir. Também ressaltamos, neste mesmo espaço, a responsabilidade exigida de quem vai às ruas. E, agora, ser responsável pode significar ter de deixar a rua um pouco de lado até que se encontre uma nova logística de protesto que mantenha a força do clamor popular, mas que não sirva de abrigo a baderneiros e nem traga à população as perdas que o cerceamento do ir e vir impõem; e, ao mesmo tempo, também não deixe a falta de plataformas concretas transformar a indignação em um ataque às instituições democráticas, e não ao seu mau funcionamento.