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O ditador venezuelano Nicolás Maduro em ato de campanha em Caracas, em 18 de julho.
O ditador venezuelano Nicolás Maduro em ato de campanha em Caracas, em 18 de julho.| Foto: Miguel Gutiérrez/EFE

Faltam poucos dias para a “eleição” venezuelana, marcada para o próximo domingo, e o ditador Nicolás Maduro está ansioso para poder dizer ao mundo que o povo da Venezuela o escolheu para continuar sendo seu líder por mais seis anos. Obviamente, boa parte do mundo livre terá bons motivos para duvidar caso isso ocorra, pois na verdade o que Maduro está fazendo é apenas deixar tudo pronto aos poucos para poder se proclamar vencedor, ainda que precise deixar a decência de lado.

Depois de ameaçar o país com “guerra civil” e “banho de sangue” caso ele não saia vencedor na semana passada, o bolivariano repetiu o tema na segunda-feira, desta vez na cidade de Trujillo. “Vocês querem que haja uma guerra civil na Venezuela? Que as guarimbas [termo pejorativo usado pelo chavismo para chamar a oposição] voltem? (...) Eles são a violência, o ódio, o fascismo (...). No dia 28 será decidido: paz ou guerra, guarimba ou tranquilidade”, afirmou, como se não fosse o seu regime o violento e o fascista, que concentra tudo no Estado e se mantém pelo porrete das Forças Armadas e das milícias paramilitares, das prisões arbitrárias e das torturas. A agressividade do discurso de Maduro foi tanta que arrancou até uma daquelas “críticas pero no mucho” de Lula, seu aliado incondicional, que disse ter ficado “assustado” – e isso foi tudo que a promessa de uma guerra civil conseguiu fazer o petista dizer.

Lula e o petismo estão sempre dispostos a validar as “vitórias” de ditadores como Maduro e Ortega

É verdade que nas ocasiões anteriores Maduro não usou de um tom belicoso tão explícito, o que poderia ser um indício de que ele estaria, de alguma forma, acuado ou considerando a possibilidade de uma derrota. Mas para isso seria preciso crer que o processo eleitoral transcorrerá de forma limpa, e essa premissa é altamente questionável, até pelo histórico de fraudes anteriores, que levaram boa parte do Ocidente democrático a não reconhecer nem o atual mandato de Maduro, nem a atual legislatura, que substituiu aquela liderada pelo oposicionista Juan Guaidó. É mais plausível que Maduro, ao falar em violência generalizada, esteja apenas trabalhando na primeira parte de uma narrativa que se completará no fim da apuração, quando o ditador dirá que o povo ouviu seu “alerta” (nunca “ameaça”) e “votou” pela paz e pela estabilidade.

Mas, por via das dúvidas, o ditador vai se cercando de cuidados. Um deles foi dificultar ao máximo o voto de venezuelanos no exterior: estima-se que haja 5 milhões deles aptos a votar, mas apenas 69 mil o farão. Não é exagero nenhum supor que este grupo, que equivale a quase um quarto de todo o eleitorado venezuelano, seja majoritariamente antichavista: a maioria só deixou o país por causa da destruição econômica e da perseguição política provocadas por Hugo Chávez e Maduro; muitos voltariam se a Venezuela retornasse à normalidade democrática, ou, mesmo que prefiram seguir no exterior, ainda têm parentes e amigos vivendo no país e gostariam de vê-los em uma situação melhor.

Outra precaução de Maduro para garantir uma “vitória” é o ataque à imprensa independente. Os principais fornecedores de serviços de internet da Venezuela bloquearam o acesso aos portais TalCual, Runrunes e El Estímulo e ao site da associação civil Medianalytica. A ONG Espacio Publico, uma das principais referências no país em questões de liberdade de expressão, também já estava sob bloqueio desde alguns dias atrás. Os veículos de imprensa que não estão cooptados pelo chavismo são os raros canais de que os venezuelanos dispõem para se informar e denunciar eventuais fraudes ou coações por parte do governo no domingo, e a censura governamental é uma forma de garantir que eventuais irregularidades não cheguem nem aos leitores venezuelanos, nem à comunidade internacional.

Dias antes de dizer que estava “assustado” com as palavras de Maduro, Lula havia feito um afago indireto a seu amigo, colocando no pacote outro ditador esquerdista, Daniel Ortega. “Por que eu vou querer brigar com a Venezuela? Por que eu vou querer brigar com a Nicarágua? Eles que elejam os presidentes que eles quiserem”, afirmara o petista. A questão é que nem venezuelanos, nem nicaraguenses podem eleger os presidentes que quiserem. Os venezuelanos, por exemplo, desejavam votar em María Corina Machado, arbitrariamente tornada inelegível por um Judiciário aparelhado. Na última farsa eleitoral nicaraguense, em 2021, vários candidatos oposicionistas também foram declarados inelegíveis e até acabaram presos. Lula e o petismo, no entanto, estão sempre dispostos a validar as “vitórias” de ditadores como Maduro e Ortega – e a presença do chanceler de facto Celso Amorim em Caracas neste domingo já indica que o roteiro está prestes a se repetir.

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