A obra da antropóloga Teresa Caldeira merece ser lembrada neste momento em que os descaminhos da segurança pública no Brasil atingem ponto crítico. No livro Cidade de muros (Ed. 34, 2003), Caldeira lembra que o preço a ser pago pela corrupção policial é dos mais altos: cabe aos agentes de segurança a mediação social da violência. Mas essa mediação não é possível se a população não lhes creditar respeito. O contrário disso é nefasto a segurança feita de forma privada e ilegal servindo de motor à criminalidade. Pior do que isso: torna-se mediadora social. É a força bruta que vai determinar mudanças sociais, decidir territórios, afirmar valores, instituir lideranças. Em outras palavras eis o inferno. Pode-se argumentar que a tendência de substituir a segurança pública pela privada é uma tendência mundial, reforçada principalmente a partir da década de 60. A Europa e os EUA, mecas do setor, estariam aí para não deixar mentir. Também nesses lugares, a segregação social é feita por profissionais treinados e armados que cobram pela sua ciência. O que é que há? Por aqui como diz Caldeira esse exército à paisana cresce de forma desigual e sem ter no que se espelhar. A polícia, sinônimo de segurança, tem se comportado mal. Que remédio, os exemplos arrastam. Chamem a polícia, agora, seja lá o que isso for.
Editorial 2