O desemprego é a maior tragédia social de origem econômica. Em primeiro lugar, o desempregado perde a totalidade de sua renda, fica sem recursos para a mais básica das necessidades humanas – a alimentação – e torna-se dependente da ajuda de familiares, seguro-desemprego, bolsa família e outras fontes. Em segundo lugar, o desemprego humilha o indivíduo e fere sua dignidade perante a família e a sociedade. Em terceiro lugar, o desemprego causa enfermidades físicas e psicológicas, com consequências sobre a saúde mental do trabalhador. Outros problemas econômicos, como a pobreza e a desigualdade de renda, também são graves, mas o desemprego é ele próprio gerador de pobreza e desigualdades. Por isso, o desemprego é a doença social mais urgente de ser combatida e deve ser a maior prioridade a ser enfrentada. Por decorrência, a meta número um da nação é o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), por ser a única forma de gerar empregos.
O IBGE anuncia que o Brasil encerrou fevereiro com 12,6 milhões de desempregados procurando trabalho, o equivalente a 12,2% da força de trabalho. Estão fora dessa massa os que desistiram de procurar emprego e os que estão trabalhando em jornada parcial, inferior a oito horas diárias. Há alguns meses, esperava-se que o país terminasse o primeiro trimestre com menor taxa de desemprego, mas alguns fatores explicam por que isso não ocorreu. Primeiro, a recessão de 2015-2016 – quando o PIB caiu 3,5% em cada um desses dois anos – foi pesada demais e lançou uma massa muito grande de trabalhadores na vala dos desempregados. Segundo, a recuperação econômica ficou abaixo do esperado, com crescimento de apenas 1% em 2017 e 1,1% em 2018, taxas que representam um desempenho medíocre, mas felizmente positivo. Terceiro, a população brasileira cresceu e cresce em torno 1,5 milhão de pessoas por ano, para as quais é preciso gerar empregos.
O ano de 2019 ainda é tido como o ano da virada em matéria de crescimento econômico
O IBGE afirma que o Brasil terminou 2018 com 208,5 milhões de habitantes e seguirá crescendo até 2047, quando atingirá 233 milhões e iniciará queda gradual, devendo chegar a 2060 com 228,3 milhões. Portanto, a necessidade de gerar empregos para absorver os desempregados de hoje e os trabalhadores que chegarão ao mercado nos próximos 20 anos é um desafio a exigir da sociedade e do governo que lutem pelo crescimento do PIB. Assim, a letargia e o marasmo econômico precisam ser removidos com urgência para que a nação veja o PIB crescer a taxas robustas – o ideal é que a média fosse, ao menos, 3,5% ao ano –, também porque a superação da pobreza somente será possível se houver aumento do PIB per capita, o que requer, por óbvio, que a produção cresça a taxas maiores do que a taxa de aumento populacional.
Nesse panorama, a pergunta principal diz respeito às perspectivas e às possibilidades de o país retomar o crescimento. A soma dos desempregados mais os que estão subempregados em jornadas inferiores a 40 horas por semana e mais os que desistiram de procurar emprego (que o IBGE chama de desalentados) configura um gigantesco desperdício de força de trabalho, gente que poderia estar produzindo, resolvendo suas vidas e ajudando a reduzir a pobreza nacional. Após ser eleito, o presidente Jair Bolsonaro emitiu declaração afirmando que se fala muito em direitos, mas o problema maior é a falta de empregos, logo, o grande desafio é destravar a economia para crescer e gerar postos de trabalho. As leis oferecerem garantias, mas poucos são os garantidos. Dos quase 104 milhões de pessoas em condições de trabalhar, em torno de 13 milhões são funcionários do setor estatal e pouco mais de 36 milhões do setor privado têm carteira assinada, com as garantias da legislação trabalhista.
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O ano de 2019 ainda é tido como o ano da virada em matéria de crescimento econômico, mas já passou um trimestre e a velocidade da política em enfrentar os problemas nacionais é lenta. Reforma da previdência, reforma tributária, desobstrução dos entraves à criação de negócios, melhoria da legislação de investimentos nacionais e estrangeiros em infraestrutura e reorganização do sistema de previdência de funcionários públicos dos municípios e dos estados, tudo isso são desafios que não podem esperar muito. As finanças públicas nas três esferas da federação estão em ruínas e o caminho mais eficaz para o aumento da arrecadação tributária é o aumento da produção nacional. Ainda é elevada a confiança dos agentes de mercado de que a dura realidade acabará impondo ao governo federal e aos governadores apoio e medidas favoráveis ao conjunto de reformas. Assim, acredita-se que, embora com velocidade menor do que a desejada, o ano de 2019 pode ser o ano da recuperação mais consistente da economia nacional.
Quando começa uma recessão econômica, o emprego é um dos últimos afetados e, quando a recessão é superada e o PIB começa a crescer, o nível de emprego também é um dos últimos segmentos a se recuperar. Ademais, a reestruturação do setor produtivo derivada da recessão leva à automatização de processos e à incorporação de novas tecnologias que exigem menor número de trabalhadores. Agregue-se a isso o fato de que a disrupção tecnológica e a inteligência artificial estão criando um mundo novo em matéria de produção, no qual os robôs cognitivos substituem o ser humano não só em habilidades físicas, mas também em habilidades cognitivas e intelectuais, e tem-se aí um quadro em que a recuperação dos empregos perdidos na recessão poderá ser lenta, e exigirá vontade, dedicação e ação eficaz dos governantes e da sociedade civil em geral. Os novos dados do desemprego exigem pressa.
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