Não obstante aspectos positivos na regulamentação da agricultura familiar, o governo não tem sido bem sucedido na política agrícola: a produção vem caindo sistematicamente, o PIB da agropecuária recuou e estados "verdes" como o Paraná enfrentam retração na renda e capacidade de consumo. Para a safra ampliada que termina com a colheita de cereais de inverno as previsões montam a um volume de 115 milhões de toneladas, ante 130 milhões no ano agrícola 2003/ 2004.
Por comparação com outro país de espaço agricultável similar ao nosso, os Estados Unidos colhem mais de 200 milhões de toneladas em apenas três culturas milho, soja e trigo e mais de 400 milhões no conjunto de grãos, fibras e insumos. No Brasil a produção da agricultura veio recuando sob o atual governo, por falhas na política agrícola, duas secas durante a formação das safras no Centro-Sul e mudanças no mercado internacional. O professor Fábio Ribas Haddad, do Ibmec, declarou que "mais do que o câmbio, a ideologia está matando a competitividade agrícola do país".
De fato, as exportações agrícolas, embora gerando saldo significativo de 18 bilhões de dólares no primeiro semestre, já crescem sem o ritmo do passado. Enquanto em igual período do ano anterior o setor exibia dinamismo com expansão de mais 10,2%, neste ano as vendas externas cresceram apenas 5,7%, com retração no complexo soja, estabilidade nas carnes e avanço apenas para açúcar e álcool.
No Paraná a colheita de grãos será reduzida em 17%, baixando de um pico de 28,9 milhões de toneladas para 23 milhões; ainda não computadas as perdas no milho safrinha e trigo. Esses dois produtos foram afetados desde a semeadura por redução da área plantada e menor volume com a falta de chuvas e outros efeitos. No trigo as perdas são dramáticas: a colheita é estimada em 1,7 milhão de toneladas, havendo regiões como o Norte Pioneiro que registraram prejuízos em até 70% das lavouras.
A safra tritícola, estimada em 4,8 milhões de toneladas (o Paraná, maior produtor, perdeu 36% do volume), deverá resultar num déficit de 5,2 milhões de toneladas a ser coberto com importações. Esse quadro de escassez pode resolver a polêmica da adição de derivados de mandioca na farinha de trigo destinada à panificação. A retração indica a conveniência, senão de obrigatoriedade, pelo menos estímulo à mistura de amido de mandioca na farinha de trigo para fabricação de certos tipos de pães. O Brasil poderia seguir a tradição de certos países, onde o pão popular, mais barato, é composto por cereais de cultivo rústico como o centeio.
Doutro lado a arroba de boi gordo caiu para o menor preço dos últimos 50 anos, R$ 47,84, com a Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária advertindo que o quadro levará ao abate de matrizes, diminuindo o rebanho e desorganização futura do setor de carnes. De fato os preços agrícolas no atacado já acusam movimentação, com alta do arroz no Rio Grande do Sul, elevação no conjunto açúcar e álcool e menor estoque de milho, com a maior demanda norte-americana para produção de etanol.