A Standard and Poor’s, primeira agência de classificação de risco a dar ao Brasil o tão sonhado grau de investimento, em 2008, voltou a tomar a iniciativa e não esperou as outras duas agências – a Fitch e a Moody’s – para rebaixar o Brasil, no início desta semana. A nota brasileira na S&P caiu de BBB para BBB-, o que ainda mantém o país dentro do grau de investimento, mas a apenas um passo de voltar ao chamado "grau especulativo". Já a Fitch e a Moody’s ainda colocam o Brasil na segunda pior avaliação entre os países considerados mais confiáveis para se investir.

CARREGANDO :)

Não se pode dizer que foi um anúncio inesperado. Diferentemente de 30 de abril de 2008, quando o índice Bovespa disparou 6,33% e ultrapassou pela primeira vez os 67 mil pontos como reação ao anúncio do grau de investimento, a bolsa paulista não despencou com o rebaixamento desta semana – pelo contrário: subiu na segunda e na terça-feira, caiu levemente na quarta e, ontem, subiu 3,5%, enquanto o dólar voltava a seu menor valor em quase cinco meses. Ou seja, o rebaixamento já tinha sido "precificado", como se diz no jargão do mercado financeiro, havia muito tempo; só o governo, a julgar pela reação da equipe econômica, é que aparentava não imaginar que isso poderia acontecer.

Ocorre que as condições que levaram a Standard and Poor’s a rebaixar a nota brasileira já estavam evidentes e não vêm de hoje. Pesou fortemente para a decisão da agência o recurso exaustivo à "criatividade contábil", o truque que permitiu ao Brasil fechar suas metas de superávit primário em 2012 e 2013. Dois anos atrás, a economia tinha sido de 2,38% do PIB, mas o governo "descontou despesas com o Programa de Aceleração do Crescimento" e o superávit chegou aos desejados 3,1% do PIB. No ano passado, uma gambiarra com os restos a pagar foi usada para o mesmo objetivo, sem falar na dependência de receitas extraordinárias, como as oriundas do leilão do Campo de Libra, para fechar a meta (que, aliás, foi sendo gradativamente reduzida ao longo de 2013: começou em 3,1% e terminou em 2,3% do PIB). Para 2014, o governo se contentará com 1,9% do PIB, e diversos especialistas já deixaram claro que duvidam até mesmo de que esse patamar seja alcançado.

Publicidade

A Standard and Poor’s também mencionou os índices de crescimento do país. O Brasil fechou 2013 com 2,3% de aumento em seu PIB, um resultado até melhor que o esperado no fim do ano, mas ainda assim bem inferior aos 4% que o ministro Guido Mantega previa no início do ano passado. Mantega, aliás, virou motivo de piada internacional graças a suas previsões sempre superotimistas e sempre erradas, que minavam a credibilidade do governo. Não achando suficiente errar suas previsões de curto prazo, o ministro passou a prever o futuro distante: em dezembro de 2013, ele disse que o país deve crescer a uma média de 4% ao ano até 2024. Se a Velhinha de Taubaté ainda estivesse viva, nem ela acreditaria.

É preciso, ainda, ressaltar que não apenas a nota do Brasil foi rebaixada, mas também a de 13 instituições financeiras do país (incluindo praticamente todos os grandes bancos), da Petrobras e da Eletrobrás. Especialmente no caso das estatais, é evidente o seu uso político pelo governo para a promoção de medidas populistas, como o represamento artificial dos preços dos combustíveis para evitar a pressão inflacionária. Um grau excessivo de intervenção estatal afeta de forma decisiva o clima para negócios no país, algo que não passa despercebido pelas agências de classificação de risco.

A resposta do governo foi uma nota enfileirando diversos números que mostrariam que o Brasil vai muito bem, obrigado, embora deixe sob o tapete o contexto que levou a alguns daqueles indicadores. Pelo menos já é algum amadurecimento, considerando que até pouco tempo atrás a reação-padrão era a ironia, como quando Guido Mantega se referiu aos "nervosinhos" do mercado. Mas o governo faria ainda melhor se, em vez de usar a tática do avestruz e acreditar que não existem problemas, usasse as informações da S&P para rever certas políticas e colocar o país de volta no caminho da credibilidade.

Dê sua opinião

Você concorda com o editorial? Deixe seu comentário e participe do debate.

Publicidade